quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Todo mundo espera alguma coisa de um ano novo

 Leia e ouça: Um dia após o outro

  Recebi uma mensagem esta manhã. Nela dizia algo sobre agradecer o ano que tivemos, e repensar sobre tudo aquilo que aprendemos, e todo aquele blá blá blá de fim de ano. Mas algo especial me chamou a atenção, a pergunta que finalizava a mensagem: Quais seus planos pra 2015?
  Fiquei algum tempo deitada na cama pensando sobre essa história de fazer planos. Depois de uns vinte minutos, entremeados por uma leve soneca regada a um sonho sem sentido, coloquei os pés pra fora da cama e me olhei no espelho. Quais os meus planos pra 2015?
 Planejar tem a ver com criar expectativas, e uma das minhas metas pro ano que passou foi justamente não criar tantas expectativas. Então eu estaria descumprindo um plano passado ao fazer mais planos pro futuro? Sei lá, reflexões demais pra essa hora da manhã. Enquanto tomava meu café me veio na cabeça - não faço ideia do porquê - aquela história de "todo mundo espera algo de um sábado a noite" - talvez por estar de férias e todos os dias parecerem sábados- e a verdade é que todo mundo espera alguma coisa dos quarenta e oito sábados que chegam com o ano novo, dos quarenta e oito domingos, e dos onze feriados prolongados que 2015 nos reserva também. Todo mundo espera alguma coisa de um ano novo.
 E o que eu espero desses mais de 360 dias que me esperam também? Eu espero mais encontros. Encontrar a mim mesma que ás vezes anda perdida por aí, sentar comigo e tomar uma xícara de chá - pode ser uma limonada também, porque tá um calor das Arábias, né?- e me reconhecer. Encontrar um jardim bonito, um museu legal, uma praia deserta, um parque calmo, encontrar um lugar novo. Encontrar gente nova, e ganhar sorrisos, poesias, experiências, trocar telefones pra numa noite monótona de inverno se reencontrar.
  De 2015, eu espero transformações. Minhas mesmo, sabe? Espero poder me transformar a cada dia. Na garota saudável que eu prometo ser todo janeiro que começa, no orgulho que todo (a) filho (a) quer ser pros pais - mesmo que negue, a gente sempre quer dar orgulho pra eles.- E transformar os meus sonhos em realidade.
 Nesse ano novo eu quero deixar as superstições de lado, as promessas, as simpatias pra encontrar o amor da vida; Eu quero fazer por merecer. Merecer a sorte, a paz, o sucesso, a alegria e todo o bem que 2015 pode me trazer.

domingo, 28 de dezembro de 2014

A paz que vem das palavras

  Leia e ouça: Electric Sea

  Nesta noite resolvi escrever sobre a razão de escrever ao invés de falar. Não vou mentir que muitas vezes até por aqui as palavras escapam, hoje mesmo, já escrevi mil vezes e apaguei. É que dizem que quando a gente sente demais as palavras expressam de menos, talvez seja mesmo esse o caso, sentir demais. Por sentir demais que eu mais escrevo do que falo, por sentir demais que muitas vezes me embaraço, por sentir demais que ás vezes prefiro o silêncio.
  Há alguns meses, criei esse espaço mais pra mim do que para os outros. E foi por meio dos pontos e das vírgulas que descobri que não estou sozinha.
  Dentro dos meus poucos um metro e meio de altura - um metro e cinquenta e quatro, especificamente - há mais que mil pessoas. E é por isso que dizem que  cada personagem carrega em si um pouco de seu criador. Porque nós escritores, somos demasiados pra ser um só. Inevitavelmente somos exageros, excessos, e acabamos por extrapolar. Pra não extrapolar é que eu escrevo. Pra não engasgar com tamanho exagero que sou. 
  Peço desculpas, muitas vezes eu não sei conversar. Eu sei que sou muito mais interessante quando escrevo, por aqui deixo de lado algumas máscaras que visto durante o dia - e não seja hipócrita,todo mundo veste máscaras -  aqui o meu lado persuasivo, minha eu corajosa, minha mulher despudorada, minha menina mimada, tomam conta de mim e sem aviso prévio ganham voz e vez pra se mostrar.
  É por libertação e redenção que escrevo, é uma forma de clamar e desabafar ao mesmo tempo, um caminho onde encontro a paz- mesmo que temporária- pra minha consciência. E se você chegou aqui, lendo este texto, quero de alguma forma agradecer. agradeço por ter sido ombros ternos e ouvidos atentos pros meus deseperos, por ter sido depósito de desejos e sonhos e por mesmo sem saber me incentivar a continuar.
  
  
  

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Você (ainda) está aqui

  Leia e ouça: My love goes free

   Encontrei retratos seus  enfiados numa gaveta trancada, como se quando a gente trancasse as lembranças esquecesse o passado. Revirei as fotos, as cartas, e eu juro que me esforcei pra me lembrar dos nossos sonhos e promessas. Fechei os olhos pra conseguir voltar no tempo, tentando em vão trazer de volta aquele alguém que nós fomos.
  Engraçado é que eu mesma não me reconheci. Tudo parecia um filme, a vida de outras duas pessoas. Outros dois estranhos. Quando foi que nos tornamos estranhos? Ou quando foi que deixamos de ser? Impresso naqueles papéis dois rostos que eu desconheço agora. 
  Não sentir rancor, culpa ou amargura, é errado? Eu não sei. É estranho, depois de tanto tempo perceber que se seguiu em frente.  Engraçado também como o tempo passou rápido. Fácil reparar no quanto mudei - mudamos - nesse tempo. Cabelo, tatuagem, emprego, apê... Conheci outros lugares, e amores, conheci meu lado bom e ruim.
 E eu não me pergunto mais o que faltou ser, sabe? Porque sei que fomos tudo.Tenho sentido uma estranha paz de espírito. Só não me entenda mal, longe de ser alívio, eu ainda te quero bem. Tão bem quanto me quis, tão bem quanto me fez.
 Só queria te contar, onde quer que você esteja hoje em dia, que você ainda é presente por aqui. Você está no sorriso que eu dou pro espelho, me lembrando de me amar em primeiro lugar. Você está nos elogios que faço, pra lembrar o mundo que é importante dizer o quanto quem a gente gosta é especial. Você está nas minhas dores, me ensinando que não há nada que o tempo não dê seu jeito. E você está no meu coração também, me fazendo entender que o amor não tem pressa pra acontecer, que a gente apressa demais o mundo e se esquece de viver.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Ao meu, Seu Antônio.

  Leia e ouça: Adagio after Marcello

  Hoje tinha tudo pra ser o dia da ressaca. É, eu sei que ainda é terça-feira, sei que a segunda mal passou, e ressaca mesmo é domingueira. Sei que os últimos meses do ano dão mesmo uma moleza, um pesar, um desassossego; e hoje tinha tudo pra ser exatamente assim, mas não foi.
  Li em algum lugar que nenhum dia é em vão, e hoje - depois de um dia arrastado e horas de uma ansiedade louca, querendo mais do que nunca as merecidas férias - recebi uma recompensa que valeu mais do que finalmente deitar na minha cama, como tanto desejei desde que deixei as cobertas de manhã.
  Dentro do ônibus que me leva todos os dias de volta pra casa, tantas pessoas querendo o mesmo que eu, no meio delas alguém com quatro vezes mais idade mas olhos tão jovens. Um homem de cabelos grisalhos, suéter azul, e uma bolsa de couro surrado. Segurava a mão de um garoto com metade da minha idade, que fazia perguntas sem parar um instante sequer. As outras pessoas talvez não tenham reparado, pela pressa da vida urbana ou seja lá porque. Eu assisti naqueles quarenta minutos de trânsito um exemplo.
  O senhor, um homem distinto como diria minha vózinha, fingiu se sentir ofendido quando levantei para que sentasse,dizendo: " De jeito nenhum, mulher nenhuma levanta pra eu sentar". Insisti, e ouvi novamente um "Não, obrigado" com um sorriso no rosto, tentei ceder meu lugar então ao netinho que imitando a educação do avô, negou com a cabeça, e me perguntou o nome do livro que eu estava lendo. Sorri instantaneamente, ao perceber um remoto interesse pela leitura de uma criança que vive num mundo completamente exposto a tecnologia.
  Seu Antônio - nome que dei a ele por conta própria, porque muito distraída acabei esquecendo de perguntar - certamente percebeu minha cara de cansada, de quem não dorme direito há dias, e me disse com uma doçura sem igual: " Menina, trabalhou hoje né? Pois agora relaxe, aproveite o natal pra descansar". Engatei uma conversa sem banalidades com aquele homem, sem perguntar sobre o tempo, sem falar da chuva, sem reclamar da vida. E me senti tão agradecida por mesmo sendo um estranho, ser tão preocupado e tão simpático com uma garota sem graça e sem sal da cidade insana.
 Costumo falar sobre o amor por aqui, e Seu Antônio me ensinou mais uma forma de amar. Talvez a mais verdadeira e mais plena, a de amar um estranho, dispensar um pouco de carinho com  uma pessoa qualquer que passa pela rua, alguém que nunca mais verá.Para ele pode ter sido apenas mais uma conversa de ônibus, com uma garota que como ele mesmo diz " tem tanta vida pra viver" mas para mim, esse gesto simples de reconhecer a existência do outro ao nosso redor, valeu o dia, a semana, o mês, o ano.
  Continuei meu caminho carregando o sorriso daquele homem no peito, me lembrando da curiosidade daquela criança que estava com ele. O paradoxo do velho e do novo, do ontem e do hoje presente ali. Agradeço ao senhor, que pode ser Seu Antônio ou Seu João, Seu Osvaldo, Seu Raimundo, e que mesmo sem nome deixou sua marca.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Falácias

  Leia e ouça: Asylum of glass

Falo mais uma vez de você. E falo daquela noite que nos conhecemos, no Bar do Zé - ou seria do Tião?- quando você pedia um suco ácido como o meu humor, e eu uma bebida forte como seu caráter. Falo do beijo que você me deu sem nem tocar nossos lábios, com gosto de desejo fazendo cada canto do meu corpo se arrepiar num olhar que me comia dos pés a cabeça e mesmo assim ainda enganava estranhos ao nosso redor.
  Falo desse querer intenso que me desperta no meio da madrugada pra te olhar do meu lado na cama, e só assim voltar a dormir tranquilamente. Falo dessa  coisa doida que muita gente chama de destino, e eu chamo apenas pelo seu nome. Proclamo um tempo ingrato, que passa depressa quando aqui estás e se demora quando se vai pra longe, tempo que parece pouco por a gente se parecer tanto.
  Grito essa rotina tosca que a gente vive de brincar de gato e rato, se escondendo da verdade. Onde eu sou o gato e o rato também, eu sou o certo, o errado, sou tudo e nada ao mesmo tempo por você. Falo das verdades e mentiras que inventei e hoje peço perdão. Falo dos calafrios que o vento me provoca fora do abrigo dos seus braços, falo da beleza dos seus olhos, da destreza dos seus movimentos, da certeza de que é você.
 Falo dos erros que cometi, e se és mais um deles tudo bem, eu aceito e persisto. Gosto mesmo é de ser o errado que você escolheu pra fazer dar certo.
  

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A escolha

  Leia e ouça: Tee Shirt

  Eu quero começar te pedindo desculpas. Me perdoe por te fazer passar por isso, eu poderia ser bem mais descomplicada, bem mais direta, bem menos maluca – e você nem sabe o quanto eu sinto muito- mas eu não sou. Me perdoe também por ter te feito entrar nessa sem avisar que eu era uma cilada, eu sei bem e você também sabe que a culpa de tudo isso aqui é minha, minha e da minha afobação desenfreada, do meu jeito de menina mimada que quer tudo pra ontem.
  Por falar em querer, você nem faz ideia de  como eu gostaria de voltar no tempo agora. Voltar pra te dizer o que eu sempre engoli em seco no meio dos nossos beijos, de toda a nossa vontade de ser um do outro, dizer o que eu sempre deixava se perder entre o suor dos nossos corpos. Mas é que sempre que eu tentava formar as palavras, elas pareciam insuficientes, vazias, sem o sentido daquilo que eu realmente sinto. Parecia até que se eu as deixasse sair elas não teriam a mesma força daquilo que está aqui dentro. Por isso eu só dizia que não era nada.
   Acontece que não dá pra dizer que você não é nada. Porque você entrou na minha vida quando eu tinha pendurado na porta um aviso de fechado. Mas você, com a sua leveza, a sua paciência abriu a porta bem devagarzinho, puxou até uma cadeira pra me ouvir contar dos meus problemas e ao invés de me julgar, fez melhor, me mostrou que  com calma a gente chega lá. E com calma, com jeito, a gente chegou juntos.
   A gente chegou juntos num lugar que eu desconhecia. Um mar sem pressa, um calor confortável, um sentimento bom, né? A rotina que poderia ser vilã mostrou que poderia jogar do nosso lado, e jogou sem trapacear. Acontece é que um penetra entrou no jogo, o medo.
  Sempre me disseram que quando a gente gosta de alguém de verdade, o medo vira nosso companheiro inseparável. Eu não acreditava muito nisso. Até que o danado do medo resolveu dar as caras. O medo de perder aquilo que eu ainda nem tinha direito, o medo de perder aquilo que me fez destrancar as portas, o medo de ter que trancá-las novamente, o medo de perder você.
   Eu sei que pode parecer uma bobagem sem tamanho essa história de perder o outro, porque na verdade a gente nunca tem ninguém só pra gente, e nem tem que ser assim. Mas imaginar uma nova rotina sem o seu sorriso gostoso, o seu sorriso safado, o seu sorriso tímido, esse sorriso aberto que tanto me encanta e me faz esquecer das dificuldades de habitar esse mundo maluco no qual somos obrigados a viver; imaginar uma rotina sem poder entrelaçar os meus dedos no seu cabelo, ou tatear a sua barba bem perto da sua boca; imaginar uma rotina sem a sorte de te olhar nos olhos e saber que você não é um sonho... Imaginar essa rotina me dói, me dói e eu te peço milhões de desculpas por isso, por não ser tão forte quanto deveria.
  Eu me deixei dominar por esse medo hoje. Ao mesmo tempo que eu estava ali com você era como se não estivesse, era como se eu tivesse me perdido de mim de novo, igual quando você me conheceu. Não vou mentir que é difícil pra mim ter que encarar essa nova rotina, mas eu vou tentar me acostumar, eu juro. Sei que você também tá com medo, vi nos seus olhinhos hoje, aqueles seus olhinhos de menino num corpo de homem, seus olhos de quem tanto precisa de cuidado, e porque não dizer olhos de quem sente falta de ser amado.
  Você já sabe – e é por isso que resolveu se afastar – que eu me encantei por você, e talvez você acredite que não mereça isso. Mas eu vou te contar um segredo, se tem alguém no mundo que merece todo o carinho, esse alguém é você. Você não vê, porque talvez seja difícil de enxergar daí de cima que o seu coração vale mais que prata, ouro, ou diamante. Você é uma jóia rara,  e eu não digo isso por vaidade, digo apenas porque é a verdade inscrita na sua alma.
  Talvez eu devesse te agradecer, mas assim pareceria uma despedida e eu ainda sinto que não disse tudo que tenho pra dizer. E eu não quero me despedir de você, entenda isso. Não quero me despedir desse bem querer, dessa cumplicidade, desse encontro raro de se ter. Não quero me despedir da parte de mim que me fez falta, da calmaria pra minha pressa, do meu anjo da guarda, meu confessor, meu melhor amigo. E é por querer estar por perto, que eu engulo esse seu medo bobo de ser feliz. Que eu supero essa sua insistência em acreditar que as coisas podem estar erradas quando estão dando muito certo. É por querer honrar esse papel que Deus me deu do seu lado, que eu disfarço essa sua vontade de viver uma penitência, com um sorriso. É por gostar de você de um jeito que me assusta que eu me obrigo a entender a sua escolha, e fingir que ela é a melhor pra nós dois.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Secretária eletrônica

Leia e ouça: Oi

  Liguei pra te dizer que andei desarrumando a estante da sala, só pra tirar dali aquela presença tua em cada livro empilhado, em cada disco do Chico que você me comprou. Liguei pra contar que chegaram uns exames teus aqui em casa, abri e parece que está tudo bem, sabe? Seu coração bate bem, tá tudo no lugar, menos você que não tá por aqui. Liguei pra avisar que vesti aquela tua jaqueta azul quentinha ontem, faz tanto frio sem você por perto.
  Liguei pra pedir, se você vier pra cá esta noite, por favor traz um vinho que o daqui de casa já acabou. Liguei pra avisar que a porta vai estar destrancada, se eu não atender a campainha é porque estou no banho, tá? Liguei pra avisar que ligaram do telemarketing do seu celular, pra te oferecer um pacote novo. Liguei pra falar que tava passando teu filme preferido na tv ontem, mas eu acabei dormindo no finalzinho como sempre...
  Liguei pra ouvir tua voz, mas só ouvi a secretária de voz robótica me pedindo pra deixar um recado. Liguei pra pedir um afago, mas só ganhei o silêncio. Liguei foi pra dizer que já chega de me fazer de durona, eu sou é bem maria-mole, e cê sabe disso. Liguei pra dizer que eu ainda sei de cor o seu número, e não há santo que me faça esquecer. Liguei foi pra assumir que eu sinto saudades, e que cê tá fazendo muita falta debaixo do meu cobertor. Liguei pra dizer que se um dia você resolver checar a sua secretária eletrônica, por favor só não se esqueça da gente, não se esqueça da felicidade que você me deu de presente, porque eu não vou me esquecer do presente que foi ter você.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Toda forma de amor

   Leia e ouça: Love Someone

   Alguns amores duram a vida inteira, mesmo que acabem. Outros duram apenas uma noite e são tão incríveis quanto. Alguns amores são doces, outros são ácidos. Alguns amores são de antes, de outras vidas, outros são de agora até não se sabe quando.
   Há amores de sonhos, há os amores reais. Há os amores privados, secretos, medrosos. Tem amor que começa com paixão e termina com desgosto, tem amor que é mais amizade que amor, tem amor que é desejo, fogo e tentação.
  Alguns amores nascem de uma troca de olhares, outros da partilha das vidas, das histórias e dos sonhos. Alguns amores já surgem fadados, outros simplesmente não surgem. Certos amores são brincadeiras, imaturidades, incertezas. Outros são cúmplices, amantes e amigos.

  Alguns amores tem nome e sobrenome, outros se perdem pelas ruas da cidade num suicídio quase instantâneo. Há amores coloridos, cheios de nuances. Outros são simples, brancos, pretos e suaves. Amores só fazem sentido para aqueles que sentem, para aqueles que apesar de imperfeitos escolhem alguém —ou são escolhidos—para amar.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Se ela estivesse do meu lado

   Leia e ouça: The Luckiest

  Ela tinha medo do mar, e amava o barulho que as conchas faziam quando colocadas ao pé do ouvido. Ela tinha pressa de viver, e eu tinha pressa de amá-la. Ela tocava guitarra, falava alemão e odiava Beatles. Eu tinha um quadro do Paul na parede do quarto desde pequeno, falava um português horrível e gostava mesmo era de tocá-la. Ela caminhava pela casa com os pés descalços e o cabelo molhado, o perfume da loção de banho de pétalas enchendo o quarto de amor e desejo.
  Ela deixava a cama cedo, e largava a saudade deitada comigo. Ela chegou em dezembro com seu cabelo vermelho, uma âncora na nuca e um cadeado no peito. Ela sorriu numa terça, na mesa de um bar cheio de gente chata e deselegante. Ela me notou preso naquela timidez, disse que odiava a minha camiseta do John Lennon, eu me calei. Ela sorriu apertando os olhinhos, suspirei e notei uma pintinha perdida ali entre o nariz e a boca.
  Ela falava sobre cinema frânces e comidas de boteco. Ela adorava pimenta e odiava dieta.
Eu fui perdendo a noção do tempo e gostando de ficar ali, com a garota de sorriso aberto e fácil, gostos tão diferentes dos meus e uma paixão pela vida. Mal sabia que acabaria era gostando de ouvir aquela voz todos os dias de manhã me acordando sem dizer bom dia e me enchendo de beijos que misturavam hortelã e canela.
 Ela era escorpião, eu era peixes. Ela era bem gostosa, eu magrelo sem graça e sem grana. Ela amava gatos, eu um alérgico atacado. Ela dormia do meu lado preferido da cama, mas e daí? Pra mim valia tudo se ela estivesse ao meu lado.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Me deixe entrar

Leia e ouça: Locked out of heaven (Piano Version)

- Ei moço, por favor deixe-me entrar. Tá chovendo aqui, uma chuva que me corta e me machuca. Chuva de gente que já desacreditou das tantas coisas bonitas da vida, e vive a desaguar mentiras aos meus ouvidos. Ei moço, me deixe entrar? Eu prometo que limpo a sujeira dos pés, tiro todos os rancores da alma, tranco as expectativas pra fora e entro outra, com um sorriso nos lábios.

  Se me deixar entrar, eu juro que não faço barulho. Guardo a língua dentro da boca e me ponho a te escutar. Deixa-me entrar e liberto esses teus medos, teus desalentos, e tuas histórias mal vividas. Me deixe entrar e  eu te  preparo uma xícara de café quente, te sirvo no bule com afeto pra adoçar.
  Ah moço, deixe-me entrar e eu te faço cafuné, cuido dessas tuas dores que tanto insistem em te atormentar, eu respondo as tuas perguntas eu resolvo as tuas dúvidas, arrumo a cama pra você deitar.
  Me deixe entrar e eu te dou um beijo bom, com gosto de hortelã e sem pressa de acabar. Abre essa porta, me deixa entrar e eu fecho as janelas bem fechadas que é pra chuva lá de fora não te inundar. Deixe-me entrar e eu não farei bagunça, até canto pra te acalmar.
  Menino, quebre esses teus muros que agora quem vai te proteger sou eu, é claro se me deixar entrar.Jogue fora esses cadeados e essas amarras, não precisa mais se trancar. Me deixe entrar, e saberei ir com calma pra por aí ficar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Quando o silêncio grita

  Leia e ouça: Home
  Meu bem, você bem sabe que da minha boca saem mais beijos do que palavras. E você também sabe que é no silêncio que eu amo você. Eu amo você, te assistindo na cozinha  cantando enquanto seca a louça do almoço. Amo você na cama se espreguiçando enquanto me beija, amo você brava porque nosso cachorro sujou todo o tapete.
  Eu que sempre procurei o amor nos lugares errados, onde fazia tanto barulho e tanto vazio. Eu que encontrei o amor no tom da sua voz, doce e cansada quando atendo o telefone de madrugada pra te ouvir dizer "estou com saudades". Era tolo, e tinha medo do silêncio. Tinha medo de me aconchegar num canto só, e encontrei um lar no seu peito.
  Aqui eu resolvi ficar e me redimir dos meus erros, deixar o silêncio falar ao invés de tentar procurar as palavras certas pra te dizer, até porque acho que elas nem foram inventadas ainda. Então, chego aqui hoje... Deixo todos os meus pudores do lado de fora da porta, esqueço que existe um mundo além do meu mundo que agora está aqui do meu lado no travesseiro. Tiro a roupa  que me ligava à outros nomes, outras vidas e sou seu.
   Tiro o telefone do gancho, desligo a tv, o rádio, o despertador e faço questão de perder o celular. Essa noite tudo o que eu quero é  sentir você aqui bem pertinho, o cheiro do seu perfume de fruta misturando com o meu cheiro de banho, o gosto do seu beijo de bala entrando por todos os meus poros e finalmente depois de todo o barulho insuportável dessa cidade de loucos, ouvir nosso silêncio gritando até nossos corpos se calarem. 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Nem lá, nem cá.

 Leia e ouça: Orange sky

   Dias atrás me perguntaram o que é que eu tinha. E eram tantas respostas possíveis, eu tenho em mim sonhos, eu tenho em mim medos, eu tenho vidas, paixões, histórias pra contar, e mais ainda histórias pra viver. Eu tenho em mim uma vontade meio doida de ser diferente a cada dia, eu tenho dúvidas, planos... Mas acabei respondendo a pergunta com um vago "Não é nada, só dor de cabeça."
   Dias atrás me perguntaram o que você tinha, e eu não soube responder. Poderia ser medo, poderia ser entrega, poderia ser vergonha, cansaço, tédio, ou poderia ser só uma dor de cabeça, também. Afinal sempre tem aquele dia que a gente acorda com o pé esquerdo, bate o dedinho na cômoda, o café fica amargo, o trânsito carregado... Poderia ser só mais um dia desses que a gente torce pra acabar logo.
  Mas hoje me perguntaram o que é que a gente tinha. Abri um sorriso amarelo, confesso. Porque o que tem dentro de mim pra você, talvez eu não consiga explicar aos outros. O que a gente tem não é amor, mas poderia ser? O que a gente tem não é paixão. Mas parece ser? É verdade que eu não sou mais só, como era antes de você. Verdade também que você não precisa ser tudo que eu sou quando se trata da gente.
  O que eu não entendo é o quanto esse povo cobra, sabe? Parece que eles precisam ter uma resposta pra tudo, parece que eles não sabem quem são, mas só vivem em paz quando descobrem quem a gente é. O curioso é que existem mil e um tons entre o branco e o preto, e que com uma gotinha de cada um se faz um cinza diferente. E isso ninguém questiona, né?
  Quando o sol se põe e o céu fica laranja, se olharmos bem a gente consegue enxergar o vermelho e o amarelo separados. Com a gente também é assim, somos o laranja e os milhares de tons de cinza. Como isso pode ser tão bonito, né? É que quando a gente entende que entre a loucura da paixão, e a constância do amor existe algo a mais, quando a gente entra nessa linha tênue a gente deixa de lado essa mania de explicação, apenas se despreocupa pra viver se equilibrando e se mantendo até quando o tempo permitir.
  Ao subir nesse barco sem nome, ao abrir as portas pra esse sentimento tão novo e tão bonito, tão gostoso e tão primitivo a gente constrói uma história diferente. Sem cobranças explícitas, sem tanta necessidade de interpretação. Nessas horas a gente vira aquilo que somos, e aquilo que a vida é de verdade. Nem lá nem cá, assumimos essa vontade de permanecer sendo apenas nós dois e mais nada, que assim se faça e se permita até o tempo não precisar mais se definir.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Me leve com você

Leia e ouça: Leve
 Nunca segui um rumo nessa vida, todo mundo que me conhece sabe o quão indecisa eu sou, daquelas que não sabe se casa ou compra uma bicicleta. Nunca fui muito pé no chão, vivo é mais com a cabeça na lua, em Plutão ou em Marte. Aliás vivia, né? Hoje eu perdi meus pensamentos num planeta mais perto daqui, mas não tão perto quanto eu gostaria que fosse.
  Eu sou um pouco perdida, um pouco maluca. Ou era, sei lá! É que de repente você me mostrou um mapa pro lugar que eu sempre procurei mas tinha tanto medo de encontrar. Lugar lindo esse, lugar onde eu posso ser quem eu sou sem medo de me perder.
  Vontade de voar já não tenho, mas sei que presa também não sou - e ter essa certeza me dá ainda mais motivos pra ficar. Quero é que morar aqui enquanto puder, e se quiser me levar contigo, vamos! Não precisa nem insistir. Quero é aproveitar enquanto a porta estiver aberta, e a coberta estiver na cama ainda com seu cheiro. Quero é ser leve como o ar pra invadir seu quarto toda manhã, ser discreta mas insubstituível pra você.
 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Amuleto

Leia e ouça: Sorte

  Sabe aqueles dias da vida em que tú já acordas com um sorrisão no rosto? Ouve passarinhos cantando e sai na janela pra curtir a vista? Sabe aqueles dias que tú viaja pra outro planeta enquanto tá sentada na sala de espera do dentista? Aqueles dias que a gente senta no sofá pra assistir a sessão da tarde e não consegue parar de mexer a perna de ansiedade? Pois é, tem sido assim desde que você entrou na minha vida, sem pedir licença, sem anunciar sua chegada e muito menos dizer que tinha toda a intenção de ficar.
  É que desde que você chegou, nem parece que o dias tem mesmo vinte quatro horas - quando eu não te vejo eles tem trinta e duas, juro - com você por aqui, os dias deixaram de ser nublados e chuva agora, é só de alegria.
Chegaste quietinho e calado, mas calou foi minha boca que tanto se orgulhava em gritar uma superioridade que nunca existiu. Roubou também as minhas palavras, que sempre somem quando olho esses teus olhos de rio, fresquinho e de águas calmas me pedindo pra mergulhar em você.
   Carrego no rosto um sorriso bobo de quem tirou a sorte grande em te encontrar, levo no peito uma alegria tamanha da minha menina que renasceu nas nossas brincadeiras, ouço agora uma melodia nova toda vez que ouço a tua voz bem pertinho do meu ouvido me implorando mais um beijo, ou pra ficar até o dia nascer.
  Melhor que trevo de quatro folhas, ferradura, figa ou a pedra do meu signo é ter você. Saber que eu tenho um amuleto pra me cuidar e proteger. Logo eu que nunca fui muito mística, que já quebrei tantos espelhos por aí e por isso devia ter uns milhões de anos de azar prometidos, encontrei você pra me fazer acreditar que sorte não é coisa que se pede, nem nada que se pode carregar na bolsa. É alguém que veio pra morar no coração e andar de mãos dadas pela rua.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Se eu pudesse fazer um pedido

Leia e ouça: Bella's lullaby

  Deitei a cabeça na grama, senti o cheiro das flores e fiquei ali por um tempo que muitos chamariam de uma vida, pensando sobre essa história louca que é estar nesse mundo e não aproveitar as chances que temos. Sabe, eu já perdi muito tempo me preocupando demais com gente que só me pesou, já gastei muitos planos com histórias que nasceram fadadas ao fracasso, já passei muito tempo dessa minha vida com medo das minhas próprias vontades.
  Mas hoje, respirar aquele ar puro do campo me reformou por dentro. Capturou meus medos e meus anseios que agora andam soltos numa brisa que não sei pra onde foi. Hoje eu não quis pensar em nada, quis esquecer essa rotina de me apegar, planejar, vencer ou fracassar. Hoje eu fingi que não vou acordar amanhã, só pra viver sem medos desse monstro que chamam de consequências. E se você soubesse quanta coisa eu descobri, meu bem.
  No fim do dia, se eu pudesse então fazer um último pedido seria que mais dias fossem assim. Embebidos desse espírito gostoso e destemido de encarar a vida. Eu pediria pra que esse medo da felicidade nunca mais batesse a minha porta, porque só eu sei quantas chances ele me roubou. Pediria uma dose de coragem pra pensar um pouco menos e fazer um pouco mais. Talvez eu até pedisse pra voltar atrás e refazer as coisas, ou não, acho que não, sem arrependimentos. Pediria pra tentar parar de me entender, e enxergar que essa vida foi feita mesmo pra se aproveitar, que nem tudo precisa ter um porquê, um começo, um meio ou um fim.
  Se eu pudesse fazer um pedido seria pra parar e tirar o pé do chão um pouco, deixar-me viajar sem rumo, sem medo, sem roteiro, e chegar onde tiver que ser pra começar a história que for sem planos nem expectativas, só a simplicidade de uma vida sem tanta explicação.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Se você vier esta noite

Leia e ouça: All in the waiting

  Te escrevo pra dizer que estou com saudades, e digo isso com um aperto enorme no peito. Porque a saudade é um mal que acaba com a gente, capaz de nos torturar usando nossa própria felicidade como arma. Escrevo com algumas lágrimas nos olhos e uma dúvida na cabeça, será que você volta? E se voltar, será que fica?
 Te escrevo pra dizer que se você  resolver voltar essa noite, que venha de peito aberto pois o meu coração é ingênuo e capaz de apagar todos os erros bobos que cometemos até aqui, capaz de começar uma nova história com direito á novas apostas só pra ter você aqui mais uma vez. E se você voltar traz aquele seu cheiro de roupa lavada que tá fazendo tanta falta no meu travesseiro.
  Se você vier agora, nem precisa avisar. O porteiro já sabe seu nome, e sabe que minha porta estará sempre aberta pra você. Se você voltar hoje, não precisa trazer flores nem desculpas, só me devolve a parte de mim que você levou e esse seu sorriso de bom moço que me rouba o ar de manhã.
  Se você decidir voltar, venha pronto pra correr o risco de eu nunca mais te soltar, porque só eu sei o quanto o seu abraço fez falta por aqui. Se bater vontade de voltar, não pensa duas vezes. Eu já nem penso meia quando se trata da gente. E se você quiser voltar, saiba que guardei os meus melhores beijos pra você e os melhores sonhos pra dividir contigo,  tem um pote do seu sorvete preferido no freezer, tem amor pra você transbordando do meu peito... Tudo isso só esperando você voltar, então vem logo ainda  essa noite, e traz as malas pra ficar.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Doce história de um amor amargo

Leia e ouça: Formato mínimo

  Era terça-feira quando eu o conheci, numa festa  que não era  estranha e que nem tinha gente esquisita. Eu só procurava a verdadeira emoção, ele mais um pouco de distração. Pra todos os santos do mundo já tinha prometido não me deixar levar pelas promessas vazias de uma noite, mas com ele foi exceção.
  Num piscar de olhos, um beijo de tirar o fôlego, revirar a alma e estremecer a vida. O universo girava cada vez mais rápido e meus pensamentos cada vez mais lentos presos áquele leve menear de cabeça e sorrisinho torto. Toda a ingenuidade se perdeu nos lençóis de um meio amor mal começado, ou mal acabado, seja como for.
  Deixando-me levar as mãos e os medos por seus cabelos, entrelaçando dedos, descobrindo outros jeitos, despertando o desejo, refazendo os meus erros, já fazia planos sem prever um fim tão próximo. O supreendente amanhecer que reduziu todo um roteiro imaginário á pó. O sol que iluminaria os dias das crianças da cidade, ao mesmo tempo apagava meus sonhos e minhas respostas.
  Vítima talvez da entrega, do desespero ou da insanidade. Presa á uma fantasia com prazo de validade. Hoje nada sou além das memórias de uma noite brindada á vinho e corpos sedentos, almas incompletas e incompreensíveis de um espírito já perdido. História doce de um amor amargo, como o café que ele nem tomou na manhã seguinte.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Já amou hoje?

Leia e ouça: The Homing Beacon
  Me perguntaram se eu já amei, então resolvi escrever esse texto.
Se apaixonar é como entrar num bote furado, tendo a imensa certeza de que vamos nos afogar. É escorregar de cabeça num tobogã de emoções que provocam nuvens no estômago e esmagam o coração. Se apaixonar é morar numa fantasia diária de um mundo cor-de-rosa.
  Amar é diferente. Amar é conviver com a certeza de que um outro alguém tão inseguro quanto você, tão imperfeito, é capaz de completar aquele teu pedacinho que faltava. Amar é quando a gente quer que dure mais do que pode durar. Amar é morar dentro de outra alma, amar é colocar a vida em xeque. A gente ama alguém quando não cabe mais em si, quando a única certeza que temos é não ter mais certeza nenhuma - e gostamos disso.
  O amor acontece quando o infinito que a gente imagina torna-se insuficiente pra viver ao lado da pessoa. Amar é fazer de todos os dias  os únicos e últimos pra ser feliz. Amar é uma aproximação de sentimentos e afinidades, quando a gente aceita o "pacote" com todos os defeitos de fábrica. Amar é quando sabemos que a diferença desse pros outros é tudo aquilo que temos em comum.
  Amar é sentir sem fazer  nem um pouco de sentido. Amar é quando faltam palavras pra explicar o turbilhão de coisas que a gente pensa quando divide a cama com a pessoa, ou a saudade enorme que sentimos quando ela vai embora. O amor não tem lógica, quanto mais se ama menos lógica se tem, e essa é a graça, a delícia de amar.
  Amar é perder o chão e ganhar o céu, é se entregar numa loucura infinita sem precisar de internação. O amor é uma paixão sem cura.


Inspirado no blog Abra o bico.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Ele é o cara

Leia e ouça: Chasing Cars


   Sabe quando você se dá conta, quando você finalmente desiste de negar? Desiste de mentir pra você mesma e pra todos os outros. Cansa de esconder que você quer começar tudo novo de novo...
  Sabe quando você deixa essa história de desapego pra lá e percebe que não adiantou nada você se esconder tanto dentro daquela concha dura e impenetrável, alguém foi entrando tímido como um grão de areia, e agora já era, virou peróla.
   Agora é isso, ele é como um tesouro mesmo. Daqueles que a gente quer ter só pra gente, e fazer o tipo bem egoísta. Aquele que te tira do sério tão fácil quanto uma espinha na véspera de Natal, mas te devolve a paz tão esperada com apenas um sorriso e duas palavras, “Vem cá”.
   E você já não tá mais nem ligando pra esse papo de que existem tantos pra se conhecer, e mil noites pra curtir, que você é nova demais pra se apegar à alguém. Você quer ele, aqui, agora e pra sempre. Sem jogo, sem drama, sem desculpas pra não ser mais feliz.
Você quer amar novamente, quer a ansiedade da conquista de volta, a espera da resposta no meio da madrugada, a dúvida de se ele está ou não pensando em você, quer desejar as iniciais dos dois na árvore sem ligar para o quão bobo é isso; mas só de ser você e ele, vale á pena.
  Assume logo que é isso que você quer, garota. Um cafuné pra dormir, pézinhos entrelaçados na cama, o cheiro dele no seu travesseiro, um beijo roubado no meio do filme, os olhos dele te devorando no domingo de manhã cheio de manha, sonhar enquanto está acordada.
  Põe logo uma faixa na entrada da favela, como diria o pagodeiro, grita pro mundo inteiro ouvir que você tá cansada de viver nessa mentira de ser autossuficiente, por  saber mais do que ninguém que ele é o suficiente pra você.  Liga pra ele e diz,  ou anuncia na rádio, na televisão, vale colocar até cartaz no poste pra dizer que é ele o cara e não dá mais pra fugir. 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ao novo amor dela

Leia e ouça: Let her go
Caro Fulano,

  Não sei nem seu nome, nem de onde você é. Não quero saber onde vocês se conheceram, mas eu sei tudo o que ela  já imaginou depois do primeiro beijo; vi vocês de mãos dadas no Parque da Cidade hoje, e só de olhar pra ela dá pra sentir como ela está feliz.
Sei que já faz um tempo que estão juntos, sei também que ela já fez mil planos pra vocês – um fim de semana na praia, outro curtindo o clima deserto da casa dela no campo - Ela é assim meio durona, mas daqui a pouco essa casca quebra e você vai ver a sorte que teve de encontrá-la.
  É, meu querido, você ganhou na loteria. E o prêmio vale bem mais do que quaisquer milhões que um banco pode te dar; o brilho daqueles olhos verdes que um dia conquistaram meu coração e fizeram meu estômago revirar inteiro enquanto a esperava no primeiro encontro, dói dizer, mas é por você que aqueles lindos olhos vão brilhar agora.
  Sei que a essa hora,  em plena sexta feira, ela deve estar com um desejo enorme de comer japonês. Ela adora sushi, e faz um biquinho lindo tentando equilibrar os pauzinhos. No fim de semana ela gosta de acordar tarde, enrola feito criança na cama pra levantar. Ela ainda dorme com aquele pijama xadrez? Fica incrível nela né?
Talvez depois de acordar ela ainda queira tomar um café bem quente assistindo qualquer bobagem que passa na televisão, mas pelo amor de Deus não fique em silêncio por muito tempo, ela tem agonia de ouvir os barulhos da xícara batendo na mesa ao invés de ouvir a voz das pessoas. Ah lembrei, isso é importante. Quando ela tá nervosa ela fala demais, sem parar, até esquece de respirar... Se isso acontecer beije-a inesperadamente, assim mesmo do nada, enquanto ela ergue as mãos pra reclamar da chefe. Ela vai parar a mão no ar e sei que ela vai pensar “meu Deus, eu amo esse cara”.
  É, ela é capaz de gostar das pessoas muito rapidamente.  Assim fica fácil se apaixonar né?Tão pura de alma, se dá sem esperar receber muito em troca. Tem gente  que acha ela meio impulsiva no começo, confunde a bondade com a ingenuidade. E essa é outra coisa maravilhosa que ela tem, ela não tá nem aí pro que os outros vão pensar.
  Aproveita que hoje tá chovendo, e passa a noite com ela. Ela ama dormir com barulho da chuva, agarrada á uma coberta e um amor. E presta atenção no cheirinho do shampoo enquanto ela dorme, não existe coisa mais gostosa nesse mundo.
Quando ela ficar brava, seja porque a comida tá demorando –ela vira bicho quando tá com fome, irmão- ou quando ela estiver de TPM, mesmo. Abrace-a bem forte, como se o  mundo fosse acabar deixe-a desabar, soluçar, espernear,  aí quando tudo voltar ao normal ela vai te olhar e abrir o sorriso mais radiante do mundo, aquelas covinhas aparecem e nada mais importa; todo um conceito de beleza que os gregos tentaram explicar resumido em duas covinhas.
  Sabe do que ela gosta muito também? Música, e se você disser que ouviu algo poético e se lembrou dela, pronto, o coração da menina fica pequenininho e ela quase morre de amor.
Ela é amor, só amor e ternura, tudo junto e misturado em pouco mais de um metro e meio de altura, cabelos castanhos e sorriso de lua. E ela é sua, cara, não deixe ela ir.

sábado, 20 de setembro de 2014

Se for pra ser amor

Leia e ouça: L'amourese

 
Sou dessas que vive por aí buscando sinais em você, tentando encontrar uma certeza de que me arriscar valerá a pena. É que desde que você chegou tudo mudou por aqui, a calmaria virou rebuliço, e eu já vivo com medo de te perder sem nem sequer ter tido um dia. Como pode?
   Eu reparei que você fica diferente comigo, ou foi só maluquice da minha cabeça? Será que é só mais uma trapalhada desse meu coração meio míope, que mais apanha do que bate? Eu sinto essa conexão tão forte, mas será que ela é tudo isso mesmo?
  É que eu gosto tanto desse jeito doido da gente, gosto tanto dessa naturalidade, dos sorrisos espontâneos, gosto tanto de você.
E se for pra ser amor que seja. Se for pra ser amor que a gente entenda. Se for pra ser que você segure a minha mão no meio do dia, assim do nada, só pra dizer que está ali sem nem dizer uma palavra. Se for pra ser amor que seja leve quanto brincadeira de criança, mas tão sério quanto bronca de mãe.
  Se for amor que não tenhamos medo, que a gente não se esqueça nunca de quem a gente era. Se for amor que não tenhamos pressa. Que a gente viva enquanto for pra ser feliz, e se um dia deixar de ser que a gente saiba se despedir.
  Se for pra ser amor que seja, que venha, que faça, que arrebate, abale, amasse, transforme, ensine, renove. Se for pra ser você, amor, tô pronta.

sábado, 13 de setembro de 2014

Esse sim é pra você

Leia e ouça: Say something

 Ninguém mais disse nada, e o silêncio machuca às vezes. Confesso que te rever ainda doeu um pouquinho, mas foi uma dor diferente de todas as outras dores, diferente daquele adeus precoce que a vida nos impôs. Quantas vezes eu já não me sentei aqui e rabisquei mil coisas querendo dizer o que sentia, de todas essas vezes não disse nem metade. E de repente, hoje olhando nos teus olhos por mais uma vezes eu reencontrei a coragem que tinha perdido.
  Coragem pra me despedir de um amor tranquilo e gostoso de sentir. Coragem pra partir sem vergonha de assumir que eu também errei. Coragem pra dizer que eu ainda te acho lindo, e que o tempo fez tão bem pra você quanto pra mim, parecemos tão sóbrios, tão completos, tão felizes. Coragem pra dizer que eu ainda sinto saudades, uma saudade tão boba quantos os seus sorrisos durante o jantar com seus pais.
   Sabe, dá uma paz perceber que nada é tão ruim que dure pra sempre. Não há mal que não passe. E aquele medo todo se foi, atravessou junto contigo a avenida super movimentada. Eu não aprendi a não gostar de ti, e nem quero, eu não tenho porquê. É bom saber que estamos bem, que nossos caminhos foram diferentes mas que deram certo. Ninguém mais disse nada, talvez porque não haja mais nada a ser dito, nós já sentimos tudo o que nos era permitido. Vivemos nossa história, a flor da pele, da carne e do osso. Mas nos perdemos de vista, nos perdemos de nós.
  Só o que eu peço antes que a gente parta de vez por essas ruas tortas da cidade, e se perca em caminhos sem volta e sem escolta,  é que a gente não se endureça, que a gente não enlouqueça, que a gente não tenha medo de amar e de recomeçar, porque há sempre algo lindo pra ser vivido; tão lindo quanto o brilho dos teus olhos de criança.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Tudo que ela faz com você

Leia e ouça: She's got you high


  Eu sei, são aqueles olhos dela. Aquele olhar de menina travessa, aquele mar todo que mora dentro dela. Também é aquele sorriso, que brilha mais do que as estrelas quando você a leva na sorveteria, e ela sempre pede o mesmo sorvete de chocolate. É a tal marquinha que ela tem no canto do queixo, eu sei, que tudo isso te fascina.
  Ela te anima, te excita e te eleva num nível que até então você acreditava ser impossível. Ela te ganha tão fácil que poderia  até perder a graça, mas não perde,porque é ela. Ela é tão ela e as outras são todas iguais.
 Juntos vocês ficam fora de órbita, é tão óbvio, ela é capaz de tirar qualquer um do eixo com aquele jeito bobo de enrolar os cabelos enquanto fala ao telefone. O reflexo dela no espelho do banheiro é a visão mais linda que você poderia ter pela manhã, o que te faz acreditar que Deus existe só por tê-la criado.
Ela fez uma bagunça enorme na sua vida, mas você não tá nem aí de juntar os caquinhos, porque é tudo o que você ainda tem dela.
  Ela te transforma no cara mais importante do mundo, e no minuto seguinte nem sabe quem você é. Ela é complicada, mas de nada adianta repetir, você já está apaixonado. Ela é contagiante, do dedão do pé ao último fio de cabelo,não te culpo por ter baixado a guarda. Você não é o primeiro, e nem será o último, infelizmente.
  O som da voz dela é a única coisa que você quer ouvir no fim do dia, é a primeira coisa que você quer ouvir quando acorda, é tudo que você quer ouvir pra sempre. Ela não é a mulher dos seus sonhos, é mais que isso porque você pode tê-la quando está acordado também.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Todo grande amor

  Leia e ouça: Chaos of the Unconscious

  Todo grande amor se acha sério, se acha diferente, ameaça à saúde. Todo grande amor tem um quê acolhedor, misterioso. Todo grande amor é um pouco doentio, quiçá até fatal; todo grande amor é meio besta, meio maluco. Todo grande amor é Cazuza, exagerado. Todo grande amor é feito de imaginação, perdição, é impensado. 
  Todo grande amor é único, arrasador. Todo grande amor têm amassos, abraços e  noites mal dormidas, mas bem acompanhadas. Todo grande amor é gato e rato, afetos e desafetos. Todo grande amor é egoísta, mas é amor, baby. Todo grande amor é livre pra ser ainda maior. Todo grande amor tem malícia. Todo grande amor não tem medo de sofrer, todo grande amor é uma cilada.
     
  Todo grande amor é míope, é cúmplice. Todo grande amor tem super poderes, é herói e também vilão. Todo grande amor é amizade; todo grande amor é oceano, de lágrimas e de sonhos. Todo grande amor se faz de poeta, todo grande amor se torna fantasia. Todo grande amor se transforma em cara-metade e tampa da panela.
 
  Todo grande amor é tempestade, todo grande amor é caos, todo grande amor é natural. Todo grande amor grita, berra na multidão; todo grande amor é silêncio e suspiro entre dois. Todo grande amor é um pouco secreto. Todo grande amor carrega terceiras e quartas intenções.Todo grande amor é metade bossa, metade rock'n' roll. Todo grande amor é divino. Qualquer grande amor dá ressaca; todo grande amor queima, todo grande amor é vício.

  Todo grande amor é picolé em Copacabana, ou fondue na Serra. É verão de céu azul, sombra e água fresca; é primavera de flores na janela, as quatro estações num só coração. Todo grande amor dá medo, provoca insônia, enlouquece. Todo grande amor é eterno, se não é, não era amor.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Diz pra ela

Leia e ouça: Say
  Você sabe que ela tá acordada ainda. Sabe o que ela tanto espera, sabe que ela desassossega cada vez que o telefone toca, sabe que é ela. Então o que você tá fazendo? Diz logo pra ela.
Diz pra ela que o cheiro da flor é mais gostoso na pele dela, diz que gosta da voz dela no telefone; que liga o celular no meio da noite, digita e apaga por medo do que vai dar.
  Anda logo, diz pra ela que você não aguenta esperar pra vê-la, que provoca mesmo porque gosta, que imagina o sorriso dela todo dia de manhã. Diz o quanto ela fica linda naquele vestidinho laranja, diz que é ela o seu motivo pra ir e voltar. Fala pra ela que o dia fica muito mais bonito quando aquele olhar de menina se acende, diz que o cabelo dela tem cheiro de mar, que ela é brisa pra acalmar o furacão que anda a tua vida.
 Grita na janela do quarto que você gosta daquele jeito dela de mexer no teu cabelo, arranhar tuas costas e acelerar teu coração. Diz pra ela que sonha em dormir de conchinha, passear de mãos dadas pelo calçadão e que se por acaso chover não tem problema o cabelo armar.
 Avisa ela que a luz daqueles olhos vidram os teus, põe um cartaz ou diz ao pé do ouvido que já não tem mais jeito. Não precisa mais evitar. Diz pra ela que é ela quem você quer pra começar e terminar o dia. 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Apaixone-se por um príncipe (des) encantado.

  Leia e ouça: Enchanted
  
  Não se apaixone por um cara que te dê flores no seu aniversário, apaixone-se por ele ser o melhor presente que você poderia ganhar. Não se apaixone por alguém que lhe dê um beijo de amor verdadeiro pra te acordar do sono eterno, apaixone-se pelo cara que vai fazer de todas as suas noites maravilhosas, e que você nem precise dormir pra sonhar.  Não se apaixone por um cara que reclame da sua demora pra se arrumar, apaixone-se por alguém que te ache linda descabelada e sonolenta na segunda-feira de manhã. Não se apaixone por um cara que vai te fazer feliz pra sempre, apaixone-se por quem vai ser feliz contigo sem se preocupar por quanto tempo vai durar.

  Apaixone-se por um cara real, cheio de problemas, assim como você. Alguém que jogue vídeogame ou passe o domingo num futebol com os amigos... Um cara que brigue por amor e faça amor pra fazerem as pazes. Apaixone-se por alguém que não te faça princesa, nem rainha, que apenas te faça humana e te ensine a amar sem tantas expectativas; te explique que relacionamento não precisa ser conto de fadas, e que tudo bem se ele não conseguir te salvar do engarrafamento da cidade montado num cavalo branco. Apaixone-se por alguém que não se importe de ir a pé, desde que seja com você.


Apaixone-se por um príncipe desencantado que te encante.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Eu não estou disponível

 Leia e ouça: If you wanna stay

  Chega aqui, quero te dar um aviso. Sei que talvez a gente já tenha ido um pouco longe demais, mas antes que seja tarde você precisa saber que eu não estou disponível.
  Eu não estou disponível pra viver histórias pela metade, nem pra ser quase-amor de ninguém. Eu só sei ser por inteiro, ser real, ser pra valer. Eu não estou disponível para testes, só fique se tiver certeza; caso contrário vá, não precisa nem se despedir. Também não precisa amar pelo que os outros não amaram, faça apenas por você. Não se preocupe em apagar as lembranças apenas dê motivos para tornar-se mais do que uma simples foto na carteira.
  Não preciso que fique só pra me fazer companhia, meu bem. Eu até gosto de ser sozinha, sabe? Mas se você quiser trilhar este caminho comigo, venha. Serás bem-vindo. Não se preocupe como será se você desistir... Eu ficarei bem, juro. Só não fique por ficar, por favor. Se insistir saiba que sou tão complicada quanto um baralho, mil faces em um só alguém, difícil desvendar, e vicia.
  Nós nunca estamos completamente prontos, eu sei. Mas se ainda estás com medo de entrar numa fria, dê meia volta; será melhor assim. Eu não estou disponível para brincadeiras de menino - só se for pra brincar de lutinha no domingo de manhã- não estou disponível pra cenas épicas de ciúmes, nem pra joguinhos. Eu só quero um amor sem mentiras, sem a obrigação de ser feliz o tempo inteiro, se for ficar não diga que não avisei.
  

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Dedo podre

 Leia e ouça: Inward Journey
– 
Mais uma xícara por favor!
  Sim, mais uma xícara de café, não uma dose de vodca. Depois de você parei de beber, deixei essa mania besta de me embriagar fingindo felicidade. Tenho passado as tardes de domingo naquele café na esquina da casa da sua vó, aquele mesmo lugar onde derrubei um milk shake inteiro so seu suéter de lã azul marinho.
  O café de lá ainda é amargo, tal qual eu ando desde que você deixou as chaves com o porteiro e um bilhete mal escrito dizendo adeus. Seu Antônio me olha com piedade desde então, já o ouvi dizer algumas vezes baixinho enquanto eu passava: "- Deus do céu, essa menina tem é um dedo podre de dar dó..." Pois é verdade Seu Antônio, e se fosse só o dedo tava bom, sabe?
  O que ninguém sabe, nem ele, nem a garçonete sem sal da cafeteria, é que esse tal de dedo podre tem sido a minha única companhia; porque até meu gato "" me levou. Eu sempre fui desastrada, de derrubar milk shake até viver machucada; sempre fiz escolhas duvidosas, mas você dizia que era por isso que tínhamos dado certo. Mas e agora, a gente deu errado né?
  A gente deu errado, e eu já devia ter me acostumado com essa ausência toda, essa falta toda que você me faz. Eu tento, engulo em seco quando troco o canal da TV e tá passando a sua série favorita, mas não ajuda quando a senhorinha do 5°andar me pergunta de você. Minto sobre uma viagem qualquer pra Índia, minto que quando você voltar vamos conhecer a netinha dela e os dois gatos pretos, comer biscoito no sofá... Minto tanto que nem sinto, minto tanto que eu mesma acredito. O sétimo andar agora tem um morador a menos, meu coração uma ferida a mais.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Do lado de cá

  Leia e ouça: Breathe
  Pra falar a verdade, eu nunca quis me apaixonar por você.Porque no fundo eu sabia que me perderia. E foi exatamente isso, acabei me perdendo de você e de mim mesma.Vivi todo esse tempo me equilibrando numa linha tênue entre o "sim" e o "não", brincando de trapezista com os meus próprios sentimentos.
  Fui morrendo aos pouquinhos sem me dar a chance de lutar, sem perceber que havia outra saída. Me afogando num mar de decepções e disfarces; sucumbindo ás minhas mentiras diárias. Acomodada e ao mesmo tempo cansada, por um fio consegui resistir.
  Como quem tira a cabeça da água para respirar, redescobri um mundo fora da redoma. Um mundo de gente de verdade, sem aquele silêncio ensurdecedor. Um passo pra fora, e já foi possível sentir a vida invadir meus pulmões novamente. E num dia qualquer quero que você me dê a mão, quero que venha pro lado de cá também. Quero que você possa sentir o vento no rosto, e a alegria que essa vida pode dar

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Aquilo que você precisa saber

  Leia e ouça: Just so you know
 Me perdoe, querido, por não dizer isso olhando nos seus olhos. Perdoe-me também por não ser a garota que sua mãe sempre desejou pra você, peça perdão á ela por mim ? Me perdoe por ter deixado as coisas terem ido tão longe, e te deixar assim sem saber o que fazer.
  Eu consigo imaginar você lendo esta carta idiota, consigo ver as lágrimas correndo pelo seu rosto e desembocando na sua barba, sempre tão linda. Perdoe-me por ter sido tão covarde, e fazer isso justo com você, talvez um dia eu consiga me perdoar também.
Eu sei, você deve estar se perguntando o que a gente fez de errado. Culpando você mesmo por ter esquecido nosso primeiro aniversário, talvez. Mas saiba que não foi por nada disso.
  Não foram os seus erros ou os meus. Não foi o seu beijo, nem o seu cheiro, relaxe. Seu perfume é o melhor do mundo todo, melhor até do que o cheiro de cookies no forno, e seu beijo, só Deus é que sabe o que acontecia dentro de mim quando você me beijava. É que eu sinto, que eu não caibo mais aqui. Desculpe-me por ser tão direta, sei que isso pode ser um defeito e tanto, e nós vivíamos brigando por isso, a minha eterna falta de pudor com as palavras. Desculpe não mudar.
 Sei que você fazia planos pra nós, sei que você também abriu mão de muita coisa por mim. Desculpa eu não ter sido capaz de fazer o mesmo, eu nunca serei boa como você. E é isso que você precisa saber. Eu não sou boa, nem pra você, nem pra mim, nem fui pra nenhum outro. Sou teimosa demais pra dividir meu coração, entende? Eu sei que você nunca exigiu nada, nunca cobrou nada, e entendia toda a minha frieza, respeitava. É por isso, que mesmo  pra um coração-de-pedra como eu, dói tanto me despedir de alguém como você.
 Eu sou cabeça de vento, dessas que faz as coisas sem pensar. Mas eu juro- e não sei se isso é pior ou melhor- pensei muito antes de te dizer adeus. Eu sou o tipo de pessoa que magoa as pessoas sem querer, como você, agora. Mas se eu soubesse que acabaria assim, eu teria feito do mesmo jeito. Isso também é um problema, eu não me arrependo.
  Você precisa saber que eu sou uma cretina, não mereço seu amor, não mereço aqueles bombons que você mandava no meu aniversário, nem mereço que você se lembre de mim amanhã. Mas você também precisa saber que eu te amo, e que isso é a única coisa boa em mim. 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Como sentir sem ti?

Leia e ouça: Goodbye my lover
   Ela tem duas jabuticabas nos olhos e um coração no lugar da boca. Ela tem uma estrela desenhada na nuca e uma poesia traçada no peito. Tem no beijo o sabor de menta de um enxaguante bucal desses que fazem propaganda na televisão; tem os cabelos da cor do mel, do qual qualquer abelha rainha teria inveja.
  Dorme feito um anjo no sofá velho da minha sala desarrumada, e quando acorda dá o sorriso mais lindo do que o pôr do sol de inverno. Carrega na alma mais sonhos do que Fernando Pessoa, e tem o atrevimento de meter o pé na vida pra realizá-los.
Cantarola Amy com todos os vidros abertos enquanto dirige, e ouve com o choro engasgado Elis Regina.
  Fez rabiscos de um futuro pra gente num guardanapo de papel, pregou no espelho do quarto e disse que ia encarar a vida. E foi. Me deixou aqui agarrado com o travesseiro, e a  manta que guarda o cheiro dela no sofá. Largou tudo e foi viver seus sonhos, levou o meu. Ela era o meu sonho bom, no meio de todo esse pesadelo. Era o colorido dessa cidade cinza, e agora eu me pergunto se esse vazio um dia acaba, se é possível, Marina, sentir sem ti...

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Nó de nós


   Ei amor, o céu tá mais azul hoje. O dia tá mais bonito, essa gente doida tá mais feliz. Tudo isso porque hoje é nosso dia.  Hoje o dia é nosso, não que os outros não fossem, todos os meus dias podem ser seus se você quiser. Mas hoje é especialmente nosso. Hoje é dia de preparar aquele brigadeiro pra comermos na panela ainda quente, assistindo um filminho besta na televisão velha do seu quarto; hoje é dia de deitarmos juntos na grama pra contar as estrelas e fazer planos de um futuro incerto, uma casa de janelas brancas, um cachorro na varanda e as crianças nos acordando cheias de manha. 
  Hoje é dia de eu te ouvir contando pela milésima vez o quanto foi difícil você chegar naquele bar do nosso primeiro encontro. É dia de me afundar no seu abraço e deixar você me ensinar com beijos que o amor é muito mais que quatro letrinhas arranjadas.
 
  Hoje eu quero ser a poesia que você lê no metrô, ser sua fuga do trabalho, seu remédio, ser motivo de uma noite bem dormida.
Só por hoje eu nem quero pensar nas contas que temos pra pagar no fim do mês, minha única dívida hoje é com você, pra ser todo o amor que você buscou na vida. Só hoje eu quero fugir desse mundo, e viver de nós. Ser feito nó em você, pra não te deixar escapar nem por um segundo sequer.


domingo, 17 de agosto de 2014

Tudo o que nós dois poderíamos ter sido se não fôssemos você e eu

E aí a ficha cai. Ela sempre cai.
    Eu não sou de reclamar da sorte, mas hoje praguejei aos sete ventos o quanto eu  era azarada, só por ter te visto.
Caramba, com tantas pessoas pra se encontrar, justo você? Mas foi só por um momento, eu juro. No instante seguinte, quando você já estava virando a esquina eu me dei conta de que tudo mudou. Ali, da janela do ônibus, eu me senti forte. Parece bobagem, eu sei, mas eu não achava que me sentiria assim de novo na vida.
   
Me senti em paz novamente. Novamente, não. Eu nunca tinha me sentido assim. Eu sempre fiquei imaginando, como seria quando a gente se reencontrasse por aí; se eu ia conseguir me segurar e não pular em você, se eu ia sofrer, ou seria indiferente. Mas não foi nada disso. Foi tão natural, que na verdade eu só me dei conta mais tarde. Te ver seguindo sua vida quase tão bem quanto eu, me fez sentir uma pontinha de orgulho. Estranho né? É sim, eu sei.
   É um orgulho bobo, quase materno, de saber que fomos adiante, sabe?
Que a tempestade passou. Hoje, eu não escrevo pra me lamentar, ou pra enumerar tudo o que nós dois poderíamos ter sido se não fôssemos você  e eu. Nós fomos sim. Fomos o que pudemos ser. Sem exigir nada além um do outro.
  De hoje em diante eu me permito sentir saudade. Mas será uma saudade sem cobranças, sem dor, ou arrependimento. Sem questionamentos, sem tentar elaborar mil e uma explicações possíveis pra termos chegado até aqui.
Ou melhor, termos chegado você aí e eu aqui.
   Ao contrário do que muita gente diz, nós não fomos um erro.
É muito simples, certas coisas são feitas pra durar, outras não. Nós dois fomos destes, que de tanta intensidade não se cabem mais.
 

sábado, 16 de agosto de 2014

Dona

Leia e ouça: Fancy (Acoustic Cover)
 
  
Olhos azuis, olhos de lince emoldurados por um traço seguro; como ela.  Pura e simplesmente a garota da festa, a dona do beijo com sabor de cereja. E foi ela quem roubou meu copo, num gole só tomou mais da metade, engoliu como  se fosse água toda a minha inocência. 
O vestido preto lhe caiu perfeitamente, mas passei a noite toda  imaginando-a sem - eu confesso-  as banais andorinhas tatuadas na nuca me chamavam pra voar com ela dali o mais rápido possível. E ela, nem aí.
  A música ela sabia de trás pra frente, e eu começara a decorar –e adorar- os movimentos de seus quadris.  O ritmo, as cores, tudo naquela sala parecia feito pra ela. Só pra ela comandar.
Era da liberdade, nem precisava dizer, a liberdade e ela dançavam de mãos dadas. A coragem, sua melhor amiga, saía pela sua voz. Rouca, tão intensa que quase tive a sensação de poder tocar. Dona de si, e agora de mim, também.
  Ela não sabe, mas naquela noite era ela quem controlava tudo, num piscar de olhos, literalmente. Seus cachos desarrumados, do tipo “acordo assim todos os dias” podiam se enrolar em mim dia e noite, não me importaria nem um pouco.
  Bebi mais uma cerveja, minha amiga das horas difíceis; sempre pronta pra me arrancar a timidez. Dancei do lado daquela autenticidade toda, não precisei dar uma palavra. Ela me sacou. Beijou minha boca e minha alma, manchou de batom vermelho  a bendita barba por fazer. Sorriu como se não fosse culpada, parecendo criança pega no flagra. 
   Ela domina com tanta naturalidade que eu nem me importaria em ser chamado de capacho pelos meus amigos. Ousa, sem parecer uma estranha, faceira nesse mundo de tanta insanidade. Hipnotiza-nos pobres mortais, nos embebeda só por existir.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Entre todas as coisas

  Gosto de você pela manhã se perdendo entre as cobertas, acordando só quando distribuo beijos do seu queixo até o dedão do pé. Gosto de nós dois brigando pelo último gole de café. Gosto quando você sai pela porta, mas volta porque se esqueceu de me desejar “bom dia”.
  Gosto quando você me liga no meio do expediente pra marcar um almoço naquele restaurantezinho da avenida. Gosto de você cantando, desafinado, as músicas que tocam no rádio do carro. Gosto de você imaginando que somos perfeitos, ou que seremos um dia. Gosto de quando você chega atrasado, e desarma minha cara feia com um beijo na testa, outro na nuca... Só pra começar.
  Gosto de quando a gente faz palavras cruzadas juntos no domingo de manhã. Gosto de você dividindo comigo o último pedaço de bolo de milho. Gosto de nós dois passeando de mãos dadas pela rua, como se só nós existíssemos por aí. Gosto de quando você libera uma gaveta no seu armário bagunçado pra guardarmos minhas coisas.
  Gosto de você sério enquanto presta atenção no noticiário, gosto da luz do sol refletindo na sua bochecha no fim da tarde. Gosto de você entender as minhas manias, e até copiar algumas.
  Gosto de você me deixando escolher o sabor da pizza de sábado. Gosto da sua cara nas fotos espontâneas espalhadas pela sala. Gosto de você fazendo careta quando eu brigo contigo. Gosto quando você deixa de lado a minha teimosia, e volta pra cama depois da briga. Gosto quando você me pede ajuda pra escolher a camisa. Gosto de você planejando os lugares que vamos conhecer juntos. Gosto dessa vida.
  Gosto de você, entre todas essas coisas. Gosto de você por todas elas. Gosto de você por você.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Anúncio de jornal

Leia e ouça: Everyday is exactly the same

Te vi hoje ali na banca da esquina, folheando revistas e fumando um cigarro. Pedi o isqueiro emprestado, falhei na minha promessa de dar dias de glória aos meus pulmões.
Não sou de reclamar, mas é que essa vida anda tão traiçoeira comigo... Perdi o emprego e o marido. E agora cá estou pedindo fogo á um estranho que parece tão perdido quanto eu.
  Saí da banca com os classificados debaixo do braço, a bolsa vazia e o coração quebrado. E você seguiu pro outro lado, atravessou a rua e sumiu entre os becos.
Circulei vagas de todas as páginas, bati em portas que se fecharam sem nem me deixar entrar. Dias de cão, terei de me acostumar, de fome não morro, só não quero morrer de solidão.
  Deixei meu número com o dono da banca pra caso um dia você volte, venha me procurar. Moro no fim da rua, e faço um bom café, podemos conversar... É que moço, eu preciso de mais do que um anúncio de jornal. Eu quero é minha vida de volta, com direito a jantar na mesa e peito pra servir de cama no fim do dia. Motivos pra voltar pra casa, alguém que me devolva a alegria.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Amor em sete sentidos

Leia e ouça: Oceans (Acoustic)

  O amor é uma coisa que se faz. O amor é uma coisa que se faz de olhares - desde o primeiro, curioso, até aqueles olhares demorados pela manhã quando a gente acorda juntos - é algo que se faz de intermináveis esperas, sejam elas as das primeiras respostas no whatsapp ou a do fim de semana na praia pra ficarmos grudados.
   O amor é feito de muitos “ões”. Idealizações, ligações, concessões, canções, e discussões...É feito de perguntas sem respostas, e de vírgulas e tudo o mais. Tem o azul do céu de março, quando nos conhecemos; o laranja daquele lírio que colheu pra me dar; o rosa do meu batom que manchou tua boca naquele beijo roubado.
O amor tem gosto de bala de canela, quente e refrescante ao mesmo tempo.
  O amor é uma coisa que se faz, na cama, na sala ou na cozinha. Mas que se faça todos os dias, e não apenas com palavras. Que se faça amor preparando o jantar no meio da semana, respeitando o direito de sair de casa vestindo saia curta ou bermuda rasgada ,ou dividindo a última Calipso do pacote.
  O amor é uma coisa que nasce. Em Lisboa, Paris, Londres, na Rocinha, no Alemão, em Moema, na Freguesia, aqui ou lá. Porque existe amor em SP, e em qualquer outro canto do mundo, sim.
Amor tem a voz de Caetano, de Tiago, de Maria, de Ana, de Malu, de Cícero. Tem a minha voz, e a sua também.
Amor tem cheiro de pipoca de cinema – daquele filme que não assistimos por motivos óbvios- tem cheiro de flor de cerejeira do perfume dela, tem cheiro de casa quando a gente se encontra no peito do outro.
   Amor é coisa que se faz aos poucos, e que sempre se espera que dure muito.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O trem da vida

Leia e ouça: Forasteiro
   A vida é mesmo esse vai e vém, esse entra e sai. Uns tais encontros, outras tais despedidas. É um misto de emoções; a felicidade de chegar e a tristeza de ir, ou a alegria de voltar e a angústia que aperta ao partir. Às vezes acho que a vida é como aquele poema de Bandeira, ou como a música de Maria Rita. Sábios, donos de sábias palavras e nobres sentimentos.
  Vejo pessoas chegarem e partir em minha vida. Gente que chega sem pedir licença ou que vai sem dizer porquê. Gente que se foi pra sempre, gente que veio pra ficar.
Sei que toda essa gente deixa um pouquinho de si pra trás, ou uma esperança pra frente. Deixa o cheiro no travesseiro, a flor na janela, o beijo na testa, o tempero no feijão.
  Sabe, a vida pode ser um trem. Às vezes acelerada, às vezes preguiçosa, e que leva pra lá e pra cá histórias que precisam ser compartilhadas, memórias pra serem guardadas; basta comprar sua passagem e seguir viagem nesses trilhos que vão nos levar sabe-se lá pra onde.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Seja o amor da sua vida

 Leia e ouça: Love is a verb 

  Chega 
dessa história de inventar alguém perfeito e ficar procurando pelos quatro cantos do mundo. Quando você desistir dessa busca incessante pela perfeição, eu garanto, estará um passo mais perto da felicidade. Isso serve pra você também, não tente ser a pessoa certa pra alguém.
  Sabe aquela história de que homem tem medo de mulher segura? Tudo mentira. Homem, homem mesmo, gosta sim de ter do lado alguém que não tenha medo de dizer "não" quando preciso; alguém que saiba tomar decisões — isso inclui escolher o restaurante que vocês vão jantar e não ficar naquele tedioso "tanto faz, o que você escolher tá bom". Assim como nós mulheres, eles gostam de gente que sabe deixar sua marca no mundo.
   Antes de se apaixonar por qualquer pessoa ao seu redor, se apaixone por você. Não, não se apaixone, ame. Ame você mesma. Ame o seu reflexo no espelho de manhã, toda descabelada e com a cara amassada. Ame aquela gordurinha na parte interna da sua coxa, ame-se de vestido de marca e de pijama de malha também...
   Parece bobagem, e até meio papo de mãe. Mas é verdade. Aprender a se amar tem a ver com amadurecer. E olha só, amadurecer começa com amor — próprio e ao próximo. Por isso o segredo é ser o amor da sua vida, porque amar é fazer morada em outro corpo e pra mudar-se de si precisamos ter sido bem cuidados primeiro. O amor é uma brisa e não avisa quando vem, então esteja pronta.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Me esqueço de mim, me lembro de ti

 Leia e ouça: Aonde quer que eu vá (acústico)
  Eu tenho Alzheimer, e quando eu não tô perdido na minha própria casa, ou me perguntando quem são todas essas pessoas que vem aqui todo domingo; quero dizer quando eu vivo o que os médicos chamam de “momentos lúcidos” - e eu prefiro chamar de “poucos minutos de uma vida de verdade” - eu me pergunto por que é que as pessoas não dizem o que realmente querem dizer, fazem o que querem fazer, vivem as vidas que ensaiam no chuveiro...
  Me lembrar de histórias do passado, e confundir toda a minha vida é com certeza terrível, do tipo de coisa que eu não desejaria nem pro meu pior inimigo. Mas alguns dias atrás, depois de uma bateria de exames, me sentei na cadeira azul do laboratório e gostei de viver uma vida perdido no tempo, lembrei do dia em que conheci o amor da minha vida.
É óbvio que na época eu não sabia disso, alguns anos atrás eu ainda não sabia, mas hoje eu sei que era ela.
  Desde do dia “D”, o dia que me deram o diagnóstico, eu a vejo todas as manhãs. Quando não nos meus sonhos, vejo-a  na rua, servindo café na lanchonete, em todos os cantos da casa, casa essa que ela nunca nem entrou. Sabe, a gente era o tipo de casal que tinha tudo pra dar errado. E ela sempre insistiu. Até quando a minha estupidez tomou uma daquelas bombas energéticas e colocou tudo a perder.
  Todos os dias eu me culpo um pouco mais. Me culpo por ter deixado um  orgulho idiota guiar minha vida, por não ter ido atrás dela quando brigávamos e principalmente por não ter insistido quando eu perguntava se estava tudo bem, e ela só respondia “tudo”. Me culpo por ter sido tão ingênuo tendo deixado ela ir, e por nunca ter ouvido meu coração como ela tanto pedia.
Graças as lembranças dos nossos dias bons, e daquele sorriso lindo eu tenho conseguido suportar os dias sombrios. Esse monstro que os médicos chamam de doença consome minha dignidade, e minha identidade também, mas me traz de volta o meu passado, e os dias em que eu fui feliz de verdade.
  Eu não faço ideia de quantos minutos lúcidos mais eu vou ter na vida, espero que tenha tempo suficiente para ao menos terminar essa carta. No fundo do meu coração tenho a esperança de que um dia ela leia, que se lembre dos nossos momentos bons, dos beijos doces e saiba que eu vou amá-la ainda que esse mal me consuma por inteiro, eu só lamento ter demorado tanto pra me dar conta disso. E se você não for ela, mas se deu ao trabalho de ler uma carta de um velho que tem de  lembrar a si mesmo quem é todos os dias pela manhã, por favor ouça meu conselho: Se você tem medo do amor, é um tolo. Se você tem medo de ouvir seu coração, então me escute bem, você é um idiota, ou uma idiota, que seja.
  A questão é que a felicidade não é algo que tem que durar só durante o seu banho, quando você finge que tem coragem pra fazer o que quer e constrói uma vida perfeita que dura alguns minutos debaixo d’água. Depois do banho, vista essa coragem e corra para aquela pessoa que te faz bem, sem medo. Vá atrás. Da mulher da sua vida, do futuro pai dos seus filhos, sei lá, não importa quem seja. Se faz seu coração bater mais forte, se apresse, antes que seja tarde demais e tudo que você tenha pra si sejam as lembranças de uma vida feliz que acabou antes do fim, ou pior, antes de começar.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

E hoje o dia é tão bonito

  Hoje pensei em você. Ouvi sem querer uma música da tal banda que eu nem lembro o nome mais. Passei rápido, cantarolei o refrão, acabou.Hoje sonhei com você. Vi em sonho uma versão sua, e me apaixonei (pela milésima vez no mês).  Hoje tropecei em nós dois na esquina. Esbanjando amor pra quem quisesse ver como costumava ser.Hoje curei a ferida. E até que ficou uma cicatriz bonita, sabia?  Hoje eu perdoei. Eu, você e o mundo inteiro. Por tanto descuido, e pelas dúvidas, por qualquer cobrança.Hoje levantei meus olhos pro céu e vi a estrela que você apontava pra mim. Enxerguei uma luz, uma saída.  Hoje dirigi até um monte de lembranças e resolvi encará-las de uma vez por todas, de uma vez pra sempre.Hoje fotografei suas flores favoritas, mas agora elas são só mais umas flores no canteiro.  Hoje voltei a viver. Uma vida que eu desconhecia, com gente na rua que eu mesmo não via. Hoje não te busco mais nos outros rostos, nem quero mais alguém do mesmo jeito, impregnado com os mesmos gostos.
Hoje eu vou rezar antes de dormir pra que dias como hoje virem rotina.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Se não desse errado não seria eu - Um texto para os pessimistas de plantão

   Durante uma daquelas conversas sem pé nem cabeça, num fim de tarde do domingo, quando já começa a te dar aquele aperto no peito porque o dia seguinte é segunda feira... Ouvi uma menina linda me dizer “mas você sabe, se não desse errado não seria eu”. Confesso que dali em diante, não prestei mais tanta atenção na conversa, que deve ter durado mais uns vinte minutos, ou meia hora, não sei. Mas fui pra casa me perguntando o porquê de alguém que tem tudo pra dar certo, escolher dar errado, sabe?
    Sim, quando ela disse aquela frase, pra mim significou que ela se conformava com os erros de sua vida, e no fim sempre esperava que as coisas realmente não dessem certo, afinal se desse certo dessa vez, não seria ela mesma. Senti – e ela mesma deve se sentir assim- que ela tinha perdido a fé em si mesma. Aquilo abriu um buraco no meu coração, tão jovem, mas com um espírito tão velho.
   Deitei na cama, fechei os olhos e pensei quantas pessoas no mundo também não se sentiam assim, e claro eu convivo com muitas dessas pessoas – às vezes eu também sou engolida por esse monstro chamado pessimismo.
Não tem jeito, sempre vai ter alguém te esperando dar um passo em falso pra repetir pela milésima vez: “eu te avisei”, ou pra mim a pior de todas: “eu já sabia”.
 E quando isso acontecer, o melhor a fazer é sorrir. Porque a gente sabe que algumas coisas tem que dar errado pra outras darem certo.
    Essas pessoas que desconfiam de si e de todos, reclamam de tudo, e adoram repetir que estavam certas e você estava errada (o), se elas tivessem ideia do quanto é chato ouvi-las ficariam caladas pra sempre. O fato é que se deu errado dessa vez, não significa que você tem que desistir.
   Tente uma vez, falhe, tente pela segunda vez, caia, levante-se e tente quantas vezes você precisar. Veja o sol, por exemplo. Ele tenta brilhar todos os dias, em alguns deles as nuvens o escondem, não dá certo. Mas no dia seguinte ele está lá pra tentar mais uma vez. Você não tem que se esconder dos pessimistas, mas tem que mostrar a eles que seu brilho é mais forte do que as nuvens que eles carregam sobre as cabeças.
   Todos os dias são lindos e prontos pra fazermos nossas apostas, e acertar, ganhar na loteria. A vida é um lançamento de dados, apenas deixe-se lançar e ver no que dá.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Na(morar)

             São 365 dias de amor. Hoje é nosso aniversário, você tá bem aqui na minha frente, vestindo seu moletom cinza, surrado ( o meu preferido) tomando uma xícara de café requentado. Acha que estou trabalhando na minha coluna semanal, mas como eu poderia? Se não consigo tirar os olhos de você.
Tranquilo, jogado no sofá, concentrado no replay do jogo do seu time. Você é tão lindo, sabia? De vez enquanto nossos olhares se cruzam, você ali e eu aqui, e eu sinto o mesmo arrepio que senti na primeira vez.
             Um cover de Beatles tocava no bar, era sexta feira 13, e é por isso que eu desacredito de toda essa coisa que chamam de azar. Você chegou com seu jeito bobo, um sorriso torto, sem cantadas baratas. Foi me ganhando com seu papinho de cineasta, depois de uma ou duas cervejas me roubou um beijo no fim da noite. Eu ainda não sei como, (sempre que pergunto você ri e mente dizendo que foi Deus, deve ter sido) mas você conseguiu meu telefone, aos poucos as coisas foram rolando, e até a minha teimosia você venceu.
             A gente nunca foi um casal padrão, cheio de rótulos, você nunca nem me pediu em namoro de verdade, mas quem liga? Do seu jeito manso foi quebrando minhas barreiras, logo eu que tanto briguei contigo por insistir, saiba que foi a sua persistência que me abriu os olhos. Foi por causa do seu ar de sabe-tudo e do seu olhar desafiador que eu me apaixonei. Foi também pelos abraços apertados de quem não tinha dúvidas desde o começo de que daria certo, foi por você dizer mais “eu sinto” do que “eu também”.
            Foi principalmente por você entender meus silêncios sem questioná-los, pela sua miopia de 5 graus que faz você me dizer que estou linda, mesmo descabelada e mau-humorada ás 5h da manhã. Foi pelo seu “bom dia, branquinha” de voz rouca.
Agradeço todos os dias, os anjos, os santos, os Beatles e a sexta feira 13 por terem me apresentado o homem mais ranzinza e mais imprevisível da galáxia.
            Agradeço você também, por ter me ensinado a ser livre do seu lado. Por ter me escolhido pra adormecer no seu colo assistindo filmes no domingo á tarde, por ter me deixado ser a primeira a sentir teu cheiro todos os dias. Agradeço você por ser aquilo que eu não pedi pra Deus, porque seria bem chato ser só aquilo.Você é melhor.
Ah, obrigada também por namorar e morar em mim. Eu não poderia ter dado a minha chave e os meus segredos pra nenhum outro.