quarta-feira, 24 de junho de 2015

O que leva a gente, o que a gente leva

   Leia e ouça: Tempo Perdido

    “A vida é importante demais pra ser levada a sério”. Li essa frase riscada  em cor de rosa-choque num muro do centro da cidade. Eu caminhava a passos curtos, breves...Como a vida têm sido. Parece até bobagem de quem tá ficando velha, mas os dias vêm passando mais rápido, não? E aquela certeza de que eu tinha todo o tempo do mundo, escorre pelo ralo junto com a água do chuveiro que me lava dos problemas.

   Oscar Wilde, autor da frase, tinha razão. A vida é importante demais, mas também é curta demais. A vida é esse trem perdido, que a gente sobe sem pedir e desembarca sem querer. A vida não é um filme, mas é cheia de dramas, comédias, romances e terror, na verdade tá mais pra uma locadora, ou pro Netflix, com todas essas opções.

   Sabe, é isso, cara. A vida é feita de opções. São escolhas. É você decidir colocar mais açúcar no café, mesmo sabendo que isso vai ferrar sua taxa de glicose, só porque seu dia tá amargo o suficiente pra não arriscar um pouquinho. É ir de bicicleta quando todo mundo vai de carro, porque assim se admira melhor a vista. É fazer agora, e não mais tarde. Porque depois pode ser tarde demais.

   A vida é ter medo, é fazer de todo amor o amor da sua vida – e que se dane o que vão pensar. É se dar o trabalho de aprender, e saber que você também tem muita coisa pra ensinar.  A vida é fazer o nosso melhor. E o melhor que podemos fazer é parar de perder tempo tentando descobrir o sentido da vida, e vivê-la.

  O que nós temos que entender de uma vez por todas, é que a vida não tá aqui só pra gente ser feliz. A gente vai sofrer sim, a vida nos reserva dores que estão aí guardadas, só esperando o momento certo pra existir. E tudo bem com isso.


   Viver também é mudar de ideia, e ninguém pode ser crucificado por isso. Viver é se deixar levar. Afinal, a vida nada mais é o que leva a gente, e o que a gente leva dela.

domingo, 21 de junho de 2015

Amor não é crime pra acharmos culpados.

    Leia e ouça: Fall

  Essa é a hora. O tal momento que eu tenho tentado escapar há tanto tempo. É a hora de tomar uma decisão, de sair do ponto morto e parar de fingir que está tudo bem, que vai ficar tudo bem. É hora de assumir, de fechar as cortinas que eu mesma abri quando criei um espetáculo, onde você era o mocinho, eu a princesa e o final era feliz.
  Sabe, eu sempre achei que estivesse pronta pra isso, embora eu fugisse desse momento mais do que qualquer outra coisa na vida, embora eu temesse ouvir e ter certeza das minhas desconfianças. Mas em histórias de amor, não dá pra ter medo, né? Eu deveria saber.
  Eu deveria saber. Aliás, eu sabia. Sabia, porque desde antes, eu sempre quis mais. E no amor, não dá pra ser desproporcional. Eu e você sempre fomos opostos. Na verdade, você é o que eu sempre quis ser, e foi por isso que me apaixonei, talvez. Por isso, e pelo seu olhar, pelo seu sorriso, pelo seu cheiro, pelo seu toque...
  Ás vezes – você não nota, ainda bem – eu fico te admirando em tarefas simples do dia-a-dia. Talvez seja porque você lindo, e seja inevitável não prestar atenção. Mas talvez, seja porque eu imagino como seria ser um pouquinho mais você.
  Mas voltando ao momento crucial – essa fui eu tentando fugir mais uma vez – dói muito, mas não dá. Não dá mais pra se entregar sozinha, e rezar todas as noites pra um dia você voltar e perceber que o que faltava em você era eu. Porque amor é feito de dois, de presença, de entrega. E não importa o quanto eu já tenha me entregado – e eu já dei tudo de mim – você não pôde se entregar.
  Você não quer e não pode, porque apesar de negar, você ainda é todo dela. Da cabeça aos pés. E Deus me livre, mas que inveja. Dói finalmente admitir isso pra mim mesma, sabia? Dói pra caralho, e dói mais ainda porque eu não posso te culpar. É que eu sei que do mesmo jeito que eu não tenho culpa de amar você, você muito menos de amá-la. O amor não é crime pra acharmos culpados.
  O amor é tão esquisito, né? Meio masoquista. Até o momento em que você não consegue mais lidar com a dor de amar alguém com quem você sabe -apesar de custar a acreditar- que nunca daria certo. É nesse momento que não importam quantas lágrimas caiam pelo seu rosto, ou o quanto as lembranças te aqueçam o coração, você só tem que abrir mão. Reconhecer, e desistir. Porque amar também é deixar ir.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Crescer é inverno, amadurecer é verão

  Leia e ouça: Velha e louca

  “ Quando você crescer, vai entender...” dizia minha mãe. No último feriado, entre algumas xícaras de chá, e livros novos, passei um dia inteiro repensando os últimos seis meses, planejando a outra meia dúzia... E percebi que crescer é um desafio diário, que a gente sempre tenta fugir.
   Daqui há seis meses, completo vinte anos. Duas mãos inteirinhas, e eu já vou ter que começar a usar os dedos dos pés pra contar minha idade. É engraçado o quanto tudo e nada mudou nesse tempo todo. Tudo, porque obviamente eu vivi ciclos diferentes nessa minha vida. E nada, porque sei que ainda há muito o que aprender.  Em alguns dias – como no fim de semestre, que enlouquece qualquer ser da face da Terra – eu me deparo perguntando pro espelho porque é que o tempo passa tão rápido, em outros – como agora, escrevendo esse texto – percebo que o tempo passa como tem que passar, tudo depende de como a gente resolve encarar essa passagem e o que é que a gente faz pra aproveitá-la.
   Crescer dói, porque nos obriga a consertar os próprios erros, crescer dói porque nos faz mudar. Crescer dói porque a gente descobre que adultos não são felizes o tempo inteiro, e não tem a solução pra todos os problemas, infelizmente. Crescer dói porque pessoas queridas nos deixam antes do que pensávamos, e descobrimos que não somos imortais.
  E mesmo com todas essas dores, nos ossos ou na alma, a gente cresce. Mas o mais gostoso de tudo isso, é que amadurecemos também. Amadurecer é o alívio das dores. Amadurecer é passar um tempo consigo mesmo, e ser feliz com isso. Amadurecer é entender que querendo ou não, as pessoas vão embora – pro céu, pro inferno, pro outro lado do mundo, ou pra fora de nossas vidas – e apesar disso doer pra cacete, é inevitável. O que também é inevitável, é a ida da dor, por mais dura que pareça, ela também se vai.

  Amadurecer é saber que alguns amores duram a vida inteira, mesmo que acabem. E alguns duram só uma noite, ou nem isso. Amadurecer é entender que tudo é possível, mas nem tudo é necessário. Amadurecer é ir do jeito que der, porque a gente sempre dá um jeito. Crescer é inverno. É frio, seco, doloroso como levantar da cama numa manhã de 15ºC. Mas deixa as pessoas mais elegantes. Amadurecer é verão. É prazeroso, exacerbado, ardente, ensolarado, divertido. Amadurecer bronzeia, queima como o sol do verão do Rio. Viver é ser das quatro estações um pouquinho, ser sol em dias nublados, e chuva pros sóis de verão.