terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Se ela estivesse do meu lado

   Leia e ouça: The Luckiest

  Ela tinha medo do mar, e amava o barulho que as conchas faziam quando colocadas ao pé do ouvido. Ela tinha pressa de viver, e eu tinha pressa de amá-la. Ela tocava guitarra, falava alemão e odiava Beatles. Eu tinha um quadro do Paul na parede do quarto desde pequeno, falava um português horrível e gostava mesmo era de tocá-la. Ela caminhava pela casa com os pés descalços e o cabelo molhado, o perfume da loção de banho de pétalas enchendo o quarto de amor e desejo.
  Ela deixava a cama cedo, e largava a saudade deitada comigo. Ela chegou em dezembro com seu cabelo vermelho, uma âncora na nuca e um cadeado no peito. Ela sorriu numa terça, na mesa de um bar cheio de gente chata e deselegante. Ela me notou preso naquela timidez, disse que odiava a minha camiseta do John Lennon, eu me calei. Ela sorriu apertando os olhinhos, suspirei e notei uma pintinha perdida ali entre o nariz e a boca.
  Ela falava sobre cinema frânces e comidas de boteco. Ela adorava pimenta e odiava dieta.
Eu fui perdendo a noção do tempo e gostando de ficar ali, com a garota de sorriso aberto e fácil, gostos tão diferentes dos meus e uma paixão pela vida. Mal sabia que acabaria era gostando de ouvir aquela voz todos os dias de manhã me acordando sem dizer bom dia e me enchendo de beijos que misturavam hortelã e canela.
 Ela era escorpião, eu era peixes. Ela era bem gostosa, eu magrelo sem graça e sem grana. Ela amava gatos, eu um alérgico atacado. Ela dormia do meu lado preferido da cama, mas e daí? Pra mim valia tudo se ela estivesse ao meu lado.

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