terça-feira, 12 de agosto de 2014

Anúncio de jornal

Leia e ouça: Everyday is exactly the same

Te vi hoje ali na banca da esquina, folheando revistas e fumando um cigarro. Pedi o isqueiro emprestado, falhei na minha promessa de dar dias de glória aos meus pulmões.
Não sou de reclamar, mas é que essa vida anda tão traiçoeira comigo... Perdi o emprego e o marido. E agora cá estou pedindo fogo á um estranho que parece tão perdido quanto eu.
  Saí da banca com os classificados debaixo do braço, a bolsa vazia e o coração quebrado. E você seguiu pro outro lado, atravessou a rua e sumiu entre os becos.
Circulei vagas de todas as páginas, bati em portas que se fecharam sem nem me deixar entrar. Dias de cão, terei de me acostumar, de fome não morro, só não quero morrer de solidão.
  Deixei meu número com o dono da banca pra caso um dia você volte, venha me procurar. Moro no fim da rua, e faço um bom café, podemos conversar... É que moço, eu preciso de mais do que um anúncio de jornal. Eu quero é minha vida de volta, com direito a jantar na mesa e peito pra servir de cama no fim do dia. Motivos pra voltar pra casa, alguém que me devolva a alegria.

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