Dia desses conversando com uma amiga,
soltei uma frase assim em tom de brincadeira – da qual ela riu e pareceu ter
concordado, inclusive. – mas de repente
percebi que não era tão brincadeira assim. Eu dizia não saber viver em um mundo
líquido, não ter nascido pra isso. E não nasci.
Parece coisa de gente intelectual
dizer isso, é até meio chato, eu sei. Mas é a verdade. Eu nasci num mundo, onde
querendo ou não, as coisas ainda eram um pouco diferentes de hoje. E não quero,
de nenhuma maneira, que isso pareça nostalgia ou coisa do tipo. Pensando bem,
talvez o mundo não fosse tão diferente assim. Talvez seja só o modo como eu
enxergo o mundo agora, que certamente é diferente de um ou dois anos atrás – de minutos atrás.
Mas eu não quero escrever sobre as
mudanças do século, ou sobre maturidade... Eu preciso falar de algo que me fez
questionar toda essa “liquidez” que fez a minha amiga rir. A falta de verdade.
Sei que também é um assunto comum, e
todo mundo se queixa nas redes sociais dessas coisas. Mas, a verdade é que
ultimamente essa tem sido a explicação pra quase tudo a minha volta. Não. Minha
vida não é uma mentira. Mas a falta de verdade não é só uma questão de mentir,
é?
Tenho me perguntado, o porquê de
termos tanto medo da verdade. Medo de dizer, ou medo de saber, seja lá o que
for. Sabe, em mundo de encontros promovidos pelo Tinder, a verdade não é a coisa mais esperada e mais desejada. Mas
deveria, né? Eu não tô aqui para questionar a veracidade desses
relacionamentos, de jeito nenhum, ok? Eu só questiono, porque é que as pessoas
não dizem a verdade?
Porque é que você não diz que não
quer ficar com a garota, ao invés de manter um silêncio impenetrável, enquanto
ela tenta de todas as maneiras chamar a sua atenção? Porque é que você não
assume que ainda ama seu ex, ao invés de deixar seu atual mergulhado em dúvidas
sobre estar fazendo a coisa certa ou não? Porque você não diz pros seus pais
que a sua vida tá um saco, porque você odeia o seu trabalho e a sua faculdade?
Ou pior ainda, porque é que você não fala a verdade pra si mesmo?
Todo mundo, alguma vez na vida, já
ouviu essa frase: “ A verdade dói.” Infelizmente, eu não sei dizer quem foi que
disse isso a primeira vez, mas eu e mais meio mundo concordamos com você,
querido. A verdade dói sim. Dói quando você ouve que não é bom o suficiente pro
seu emprego dos sonhos, dói quando você percebe que seu relacionamento já
passou do prazo de validade, ou pior, que ele tinha prazo de validade. Dói, dói
pra caramba, eu sei.
Mas eu também sei que todas essas
verdades, quando aceitas, doem muito menos que qualquer outra mentira, que
consome a gente aos poucos e vai enchendo a gente de dúvidas. E apesar de doer,
a verdade precisa ser dita. Sempre. Porque essa é outra coisa que precisamos
aprender, sofrer. Sofra, sofra de verdade e com toda a intensidade que
precisar, porque como dizia a minha avó “
Quando a gente sofre por algo que é verdadeiro, o sofrimento também é
aprendizado.”
Apesar de ter dito aquilo pra minha
amiga rir, foi verdadeiro. Eu me cansei dessa falta de sinceridade, desses
muros que a gente mesmo constrói e depois não sabe sair, dessa nossa mania de sempre estar “bem”. Eu me
proponho um desafio, mais ou menos como num filme que vi uma vez, com o Jim
Carrey... Dizer a verdade. Algo que deveria ser tão simples, e eu mesma tenho
tornado tão difícil. Ser verdadeiro num mundo de mentiras é um privilégio, e
não custa nada arriscar.