sexta-feira, 24 de julho de 2015

Quero morar num abraço seu

 Leia e ouça:  Give me love

        Aluga-se. Vende-se. Rodei a cidade procurando um apartamento, uma casa, uma república... Um lugar pra me aquietar nessa cidade insana. Te encontrei sem querer, entre um prédio e outro, num dia chuvoso, tomando um café. E quem diria, encontrei também um lar.            Foi no seu abraço que eu resolvi desfazer as caixas, desmontar as malas, espetar minha casa. Me enrolei ali, nos seus braços, me prendi no seu cheiro e adormeci no seu peito. Quero morar num abraço seu. Quero ficar, quando chove lá fora, quando o dia amanhece, enquanto os cachorros latem, e o aroma das flores da primavera invadem nosso quarto.
            E por mais desajeitado, apressado, desesperado ou cheio de saudade é no seu abraço que quero morar. É ele que me salva do fim do mundo. Abraço bom que deixa a gente com gostinho de quero mais. Abraço seu, que abre e fecha o dia com a calmaria que eu preciso
             Seu abraço que é feito laço e me prende num braço seguro, protege desse mundo louco de gente sem amor. Seu abraço que tem cheiro de hortelã, e traz de brinde os beijinhos me cobrindo da cabeça aos pés toda manhã. Esse abraço que me faz pedir pro tempo parar, ou passar mais devagar. Abraço que quanto mais apertado melhor, quanto mais pertinho mais gostoso.

            Abraço que enrosca, segura um pouquinho. Coração com coração, batendo cada vez mais forte, pedindo pra nunca mais desgrudar. Abraço só seu, de olhos fechados que me acolhe e me faz sentir em casa, aqui ou do outro lado do mundo. Estou bem se estou com você.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Me conta mais de você

Leia e ouça: Quadro verde

   Eu já sei que você gosta mais do inverno. Sei também que não come peixe cru, e sei que ouve os mesmos discos que eu sempre ouvi. Eu descobri que você gosta de vinho tinto, e eu detesto, mas tudo bem. Já decorei o seu apelido de infância, sei também do seu medo de ficar sozinho, de não dizer a verdade.

   Mas eu ainda sei tão pouco. Me conta mais de você. Me conta dos seus verões, e de todas as outras estações. Me conta dos seus melhores amigos, do seu primeiro beijo, dos seus sonhos de menino...

   Eu sei do seu jeito de sorrir, e já anotei alguns motivos que o deixam mais brilhante. Eu lembrei que você prefere chocolate branco, e não gosta muito de ficção. Mas me conta mais de você, de repente tem tanto pra saber...

   Eu gostei desse seu jeito de falar da vida, sem fazer tantos planos, porque eu sempre quis ser assim também. Eu sorri quando você disse que gostava de como eu vejo beleza nas coisas – e eu vejo tanta em você, meu bem.

   Sei que isso tudo assusta, e eu prometo me segurar um pouco mais. Sei que às vezes dá medo, mas é que eu gosto tanto de te descobrir. Te descobrir e me reinventar,  já que você apareceu quando eu deixei de acreditar.


   Me conta mais de você, eu quero ouvir um pouco mais. Gosto de saber dos seus desejos, e entender devagarzinho o porquê de eu gostar tanto assim de você.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Ela sorri bonito

Leia e ouça: Love you more

Ela sorri bonito. De olhinhos quase fechados, um sorriso escancarado que amolece o coração. Ela sorri com direito a duas covinhas surgindo, emoldurando os lábios. Ela sorri de dentro pra fora, trazendo alegria pro dia nublado com café amargo que começou agora.

Ela sorri de verdade. Sorri sem jeito quando eu digo que ela é linda de cabelo bagunçado, e maquiagem borrada depois de acordar. Ela sorri certa. E me dá a certeza de que mesmo quando as coisas dão errado – o café amarga, a chuva não pára, o ovo queima, o carro quebra – não há outro lugar onde eu preferia estar.

O sorriso dela tem luz, irradia e contagia. Confesso até que dá um orgulho besta quando ela admite que ri de mim, pra mim, por mim. Ela sorri e tudo fica bem. Ela sorri como se a vida fosse fácil, e fica, do lado dela. Ela sorri e não tem mais jeito, eu sorrio também, bobo, escrachado, rendido.


Ela sorri leve quando o coração está cheio. E que sorte a minha ter o sorriso dela pra me completar.  Ela tem esse jeito de sorrir, uma alegria que transborda e faz nascer os sons mais gostosos de se ouvir: a risada contida, o sorriso entrecortado pelos suspiros dos beijos que não me contenho em roubar.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Verdade seja dita, por favor.

            Leia e ouça: People help the people

         Dia desses conversando com uma amiga, soltei uma frase assim em tom de brincadeira – da qual ela riu e pareceu ter concordado, inclusive. –  mas de repente percebi que não era tão brincadeira assim. Eu dizia não saber viver em um mundo líquido, não ter nascido pra isso. E não nasci.
            Parece coisa de gente intelectual dizer isso, é até meio chato, eu sei. Mas é a verdade. Eu nasci num mundo, onde querendo ou não, as coisas ainda eram um pouco diferentes de hoje. E não quero, de nenhuma maneira, que isso pareça nostalgia ou coisa do tipo. Pensando bem, talvez o mundo não fosse tão diferente assim. Talvez seja só o modo como eu enxergo o mundo agora, que certamente é diferente de um ou dois anos atrás –  de minutos atrás.
            Mas eu não quero escrever sobre as mudanças do século, ou sobre maturidade... Eu preciso falar de algo que me fez questionar toda essa “liquidez” que fez a minha amiga rir. A falta de verdade.
            Sei que também é um assunto comum, e todo mundo se queixa nas redes sociais dessas coisas. Mas, a verdade é que ultimamente essa tem sido a explicação pra quase tudo a minha volta. Não. Minha vida não é uma mentira. Mas a falta de verdade não é só uma questão de mentir, é?
            Tenho me perguntado, o porquê de termos tanto medo da verdade. Medo de dizer, ou medo de saber, seja lá o que for. Sabe, em mundo de encontros promovidos pelo Tinder, a verdade não é a coisa mais esperada e mais desejada. Mas deveria, né? Eu não tô aqui para questionar a veracidade desses relacionamentos, de jeito nenhum, ok? Eu só questiono, porque é que as pessoas não dizem a verdade?
            Porque é que você não diz que não quer ficar com a garota, ao invés de manter um silêncio impenetrável, enquanto ela tenta de todas as maneiras chamar a sua atenção? Porque é que você não assume que ainda ama seu ex, ao invés de deixar seu atual mergulhado em dúvidas sobre estar fazendo a coisa certa ou não? Porque você não diz pros seus pais que a sua vida tá um saco, porque você odeia o seu trabalho e a sua faculdade? Ou pior ainda, porque é que você não fala a verdade pra si mesmo?
            Todo mundo, alguma vez na vida, já ouviu essa frase: “ A verdade dói.” Infelizmente, eu não sei dizer quem foi que disse isso a primeira vez, mas eu e mais meio mundo concordamos com você, querido. A verdade dói sim. Dói quando você ouve que não é bom o suficiente pro seu emprego dos sonhos, dói quando você percebe que seu relacionamento já passou do prazo de validade, ou pior, que ele tinha prazo de validade. Dói, dói pra caramba, eu sei. 
            Mas eu também sei que todas essas verdades, quando aceitas, doem muito menos que qualquer outra mentira, que consome a gente aos poucos e vai enchendo a gente de dúvidas. E apesar de doer, a verdade precisa ser dita. Sempre. Porque essa é outra coisa que precisamos aprender, sofrer. Sofra, sofra de verdade e com toda a intensidade que precisar, porque  como dizia a minha avó “ Quando a gente sofre por algo que é verdadeiro, o sofrimento também é aprendizado.”

            Apesar de ter dito aquilo pra minha amiga rir, foi verdadeiro. Eu me cansei dessa falta de sinceridade, desses muros que a gente mesmo constrói e depois não sabe sair, dessa  nossa mania de sempre estar “bem”. Eu me proponho um desafio, mais ou menos como num filme que vi uma vez, com o Jim Carrey... Dizer a verdade. Algo que deveria ser tão simples, e eu mesma tenho tornado tão difícil. Ser verdadeiro num mundo de mentiras é um privilégio, e não custa nada arriscar.