domingo, 27 de dezembro de 2015

Fomos feitos pra durar

Leia e ouça: Último Romance

   Cientificamente o tempo é o senhor de si. Não depende de nada, nem de ninguém, e passa como bem quer, obedecendo as próprias regras. Contrariando qualquer regra, surge o amor. Aquele sentimento que ás vezes nós fugimos, muitas vezes nos escondemos, ou tememos, mas no fundo somos loucos pra viver.
   O amor é sim uma coisa louca, como diriam músicos, poetas, e profetas do tempo.  Bate à porta quando quer, surpreende, assusta, e também enlouquece. Aquele que ama, se arrisca todos os dias, porque amar é puramente uma entrega, jogar-se em um rio mesmo não sabendo nadar, pular de paraquedas sem temer a queda, apenas apreciando a paisagem.
   Alguns amores prendem, sufocam, martirizam... E a gente se engana, e a aceita o amor que acreditamos merecer. Quando na verdade, era apego. Amor de verdade liberta.  Amar é ser  livre para estar com um só, quando você poderia estar só. Amar é escolher  todos os dias fazer o outro feliz e ser feliz por isso.
   Mas ninguém disse que essa seria uma tarefa fácil, não é? Amar é complicado também. Exige dedicação e atenção, mas nada disso é forçado quando enxergamos o sorriso sincero e aberto daquele que amamos. Amar é colocar as necessidades de alguém acima das suas, como diria meu bonequinho de neve preferido. Mas antes disso, é fazer das necessidades do outro, as suas também.
   Nada muda o passado, mas juntos somos capazes de mudar o presente e viver um futuro, sim. Nada muda o que vivemos em outras relações, em outras estações da vida, e tudo foi um degrau pra que chegássemos até nós dois.
    Trinta dias depois de o amor bater à nossa porta, eu só faço sala e peço pra ele ficar. E prometo, regar essa semente todos os dias, pra fazer raiz em nossos corações. Que o amor vire rotina, porque presente já foi.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Vinte primaveras

    Leia e ouça: Quem eu sou

   Viver também é envelhecer, antes disso viver é amadurecer. Neste mês completei vinte anos, confesso que estou um pouco desacreditada de como o tempo passou até aqui. Vejo meus priminhos cada vez maiores, e conquistando seus sonhos... Eles que até ontem eram crianças como eu, e hoje ganham o mundo numa nuvem que voa rápido demais. É mais fácil ver os outros crescendo do que você mesmo, né?
     As vinte primaveras chegaram rápido sim. Olho nos olhos dos meus pais e me encho de orgulho por tudo o que fizeram por mim pra chegarmos até aqui. Mais ainda, sou feliz e completa por poder dizer que chegamos juntos, grudadinhos, e cheios de amor.
    Sempre adorei fazer aniversário, não por receber presentes. Eu adoro receber abraços, e faz bem pra qualquer um sentir-se querido, certo? No oitavo dia do último mês do ano, é como se eu não coubesse mais dentro de mim, transbordo de alegria ao ver todo mundo reunido, e esquecendo nem que seja por um diazinho, todos os problemas do ano que já vai acabando.
    É meu ano novo particular. Minha chance de renovar promessas, de conversar comigo mesma e entender quanta coisa mudou desde aquele primeiro aniversário com tema da Branca de Neve. Hoje a festa é dentro de mim, numa alegria que chega de cada abraço e cada desejo de felicidade. Não ligo para os clichês que acompanham esta data, gosto mesmo é da sinceridade no olhar de cada um, que por um segundo se lembrou de mim.

    A meia-noite deste dia, eu só tenho a agradecer. Agradecer por mais um ano, pela vida, pela família maravilhosa, os amigos, e o amor que eu só quero que fique cada dia mais por aqui. E prometer. Prometer viver cada dia com alegria, com paixão, me permitindo... Trilhando o caminho que Deus traçou quando eu nasci, construindo com as bênçãos Dele, uma história bonita de se assistir lá do céu um dia.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Tem nós em mim

Leia e ouça: Sentimental

   Olha pra mim. Nem precisa dizer nada... Fica em silêncio mesmo, porque nele eu ouço todo o seu barulho. Olha pra mim. E fecha os olhos pra não esquecer, que sempre haverá por aqui alguém que muito se importa com você. Guarda no seu coração o doce dos nossos beijos, e a verdade dos nossos laços. Sei que somos mais fortes do que tudo que a gente já tem aqui.
   Não vou mentir, gosto de imaginar nós dois. Gosto de pensar em uma vida, onde haverá lugar pra você e pra mim. Uma vida em que dividir e compartilhar virem rotina, e que nossos nomes juntos sejam sinônimos de felicidade.

   No seu abraço descobri que amar alguém é ganhar casa onde a gente nem imaginou pertencer. E desejo hoje, que essa nossa pressa não se perca – se eu errar,e se um dia se perder - que eu não me perca de você. Desejo hoje, amanhã e mais além, porque é do seu coração que vem a paz pra minha alma.Já é tarde pra querer partir, já tem nós demais em mim. E eu sei, Deus vai dar aval sim.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Meu desejo agora é arriscar

Leia e ouça: Pelo amor do amor

    Você veio, eu sei lá de onde. Sei lá pra quê. Veio pra colocar este marasmo de ponta cabeça, fez rebuliço no mundo antes tão calmo. Causou, como eu amo te dizer.
Causou novidade, causou um friozinho bom de sentir. Arrepio na espinha que toma conta toda vez que me beija a nuca. Trouxe as borboletas de volta,  e o passarinho verde cantou um dia inteirinho só pra gente ficar ouvindo.
    Esse seus olhos são como mar, me afundo e me entrego. Sem medo de amar. Perco as rédeas contigo, apenas sinto, a conexão é forte. Mais forte do que consigo explicar, as palavras fogem e vão morar na tua boca, que tão linda se encontra com a minha na luz escura do quarto.
   Não precisei te conhecer pra saber, que seria você. Seria você o causador da insônia, dos meios sorrisos quando toca o celular. Seria você o dono do desejo que cresce sozinho na imaginação.
   Sem saber muito bem a razão, pois já me despi de toda a racionalidade quando deixei cair no chão o velho sutiã de renda preta, sem saber muito bem pra onde vou, sigo até o final. Eu vou até o final, no nosso tempo, do nosso jeito. Tentando não reter esperanças, eu vou até o final. Já te reconheço em mim.
   Eu quero tanto em tão pouco tempo. Isso assusta, eu sei. Mas eu não consigo mais evitar, moço. Te peço que venha, e encaixe as tuas linhas nas minhas entrelinhas, que a gente entrelace os fios da vida, que a gente seja energia boa, e lembrança gostosa pra guardar, mesmo se isso um dia acabar. Meu desejo agora é arriscar.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

É preciso tocar o chão

       Leia e ouça: Dream
    Se me perguntassem o que mais gosto em mim, eu diria sem medo: Minha capacidade de sonhar. É engraçado, eu sei. Um pouco excêntrico, talvez. Mas eu gosto. Gosto de imaginar como minha vida vai ser daqui pra frente, gosto de fazer planos, traçar metas, fazer listas...
   Sonho antes mesmo de dormir, e pra mim, são os sonhos que nos movem. Lembro-me de ouvir gente dizendo o quanto isso era bonito, enquanto outros me diziam o quanto isso poderia ser trágico – e algumas vezes foram. Eu nunca liguei.
   Relembro sorrindo o que um dia ouvi o amor dizer: “ – Não quero colocar os pés no chão.” Foi como música para os ouvidos e pra alma da menina que fui, era como se o sonho fosse acabar se descesse da cama, se o gelado do piso invadisse o corpo, se deixássemos o que vivemos ali, embaixo dos lençóis.
   Hoje eu sei que nada ficou ali. Nem aquele amor, nem todos os outros que vieram. Hoje, meio crescida, continuo sonhando. E carrego em mim uma coleção de nuvens, cheias de desejo, uma série de estrelas cadentes capazes de alcançar o céu em um breve piscar de olhos.
   Sei que é preciso tocar o chão. E que os sonhos ainda continuam depois de saltar da cama. Mais importante do que tudo isso, aprendi que os sonhos se realizam, e a gente só vive coisas especiais se quiser. Crescer e abandonar o travesseiro não tem nada a ver com deixar os sonhos pra lá.
    É preciso colocar os pés no chão para viver, é preciso sonhar para realizar.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Mesmo que a gente volte, a gente não volta

   Leia e ouça: Comes and Goes

   Mesmo que caia aquele temporal mais uma vez, e você me empreste o guarda-chuva amarelo. Ainda que eu sorria de volta pra agradecer, e te olhe por sobre o ombro quando você virar de costas. Mesmo você me trazendo café sem açúcar no dia seguinte, com um sorriso desenhado num post-it só pra me deixar feliz e puxar conversa.
   Nem que você me mande uma mensagem no fim do dia, querendo saber se cheguei bem. Mesmo você me encarando por horas do outro lado do escritório e me deixando sem graça quando nosso chefe passa. Ainda que eu ceda e beba um ou dois drinques contigo na sexta, que voltássemos ao cinema, e acabássemos na cama como a primeira vez.
    E mesmo que eu acorde de madrugada assustada te procurando pelo quarto escuro, ou ligue meio bêbada, sabendo que vou me arrepender depois. Ainda que eu faça tudo de novo. Mesmo que a gente volte, a gente não volta.
    A gente não volta, não. Nem por mal, nem por falta de amor. Não volta porque ainda não inventaram uma máquina do tempo pra me fazer sentir tudo aquilo outra vez. Não volta porque nem eu nem você somos os mesmos de dez dias atrás, que dirá de um mês.
    Não volta porque a gente já sabe como pode acabar. Não volta porque eu me apaixonei por outro alguém, que  eu nem sei se ainda mora em você, ou já foi mandado embora também. E não vai voltar, porque o tempo não congela, e até o amor muda, não há como se culpar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O amor é muito simples, a gente é que complica

   Leia e ouça: I Found

   Não sei muito bem como chegamos até aqui. Não sei ainda se vou te encontrar no ponto de ônibus, na escada rolante, na faculdade, ou sei lá mais onde o cupido inventar de cruzar nossos caminhos. Eu não sei seu nome, não sei seu telefone, não sei seus gostos, não sei de nada. Aí está toda a graça.
   É impossível saber se vamos ter uma casa com flores na janela, dois filhos correndo na varanda, um labrador latindo no jardim. Difícil prever se vamos chegar em casa depois de uma noitada e brigar porque você achou um pouco demais os olhares daquele fulano do bar, se vamos fazer as pazes com um beijo na testa, ou arrumaremos as malas pra seguir em frente...
  Talvez a graça do amor esteja mesmo na falta de previsão. Essa história de saber se vai chover a tarde, nos deixa ansiosos pra chegar em casa sem se molhar.A beleza do amor está em ser pego desprevenido. Assim de supetão, e ficar sem jeito com um sorriso retribuído do outro lado do balcão.
  Difícil dizer se vou me apaixonar por você no primeiro beijo, ou nos terceiros que virão. Mas eu posso te assegurar que cada beijo será único, singular ainda que venha seguido de outros mil pela manhã, fazendo manha pra ir trabalhar. Não posso prometer que serei tudo o que você sonhou, é meio injusto cobrar dos outros aquilo que eles nem sabem que se espera. É maldade desejar que seja igual quando todo amor é diferente.
   O amor está em cada particularidade, essa é a verdade. É impossível esperar aquilo que o outro não pode dar. Tentemos então não nos frustrarmos com as expectativas quebradas, ok? Acontece. E se tiver que ser, vamos superar isso também.
   Eu não sei quando você vem, nem de onde, nem exatamente pra quê. Sei que se for pra ser desta vez, você vai atirar todas as minhas certezas pela janela pra me mostrar que a sutileza do amor está em não saber qual será o próximo passo.

  E se juntos caminharmos até poder ser chamado de amor, que sejamos capazes de entender uma coisa: o amor é muito simples, a gente é que complica.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Guarde um pouquinho da minha emoção

   Leia e ouça: I'm a mess

   No outono passado, escutei de alguém algo que fez meu coração se partir em pequenos pedacinhos, meus lábios tremerem, e a angústia escorrer pelo rosto até tocar o peito, e ali morrer. Ouvi sem meias palavras “ A gente não vai dar certo, você vive depressa...”
   Apressada, depressa, pressa, presa. Por uma primavera inteira, foi exatamente assim que fiquei. Presa, acorrentada à um amor que lá atrás já havia nascido fadado, e não tínhamos percebido. Vivendo um passado que há muito já havia morrido.
   Não me envergonho, nem me vanglorio em dizer que passei noites em claro, com o travesseiro encharcado tentando entender o que é que tinha dado errado desta vez. Procurei as falhas mais bobas, talvez no  primeiro beijo desencontrado no metrô, nos apelidos bobinhos que criamos um pro outro, na minha mania de entregar tudo, de mergulhar sem antes testar se dá pé...
   Com você não foi diferente. Me entreguei até o último fiozinho de cabelo – aquele branco que você encontrou durante a tarde na praça, lembra? – dei tudo de mim, e qual o mal disso, meu bem? Amar é isso, não é? Amor é oceano, e talvez eu seja o diamante azul da Rose, que se perdeu em seu infinito. Amor é um cometa, e viaja rápido pelo céu, atingindo nosso peito, sem freio.
    Amor é a Disneylândia, cheio de diversão, memórias e brindado com o misto de perigo e emoção das montanhas-russas. E foi amor com você. Foi sim. Foi amor quando eu disse que queria ficar mais cinco minutos. Foi amor quando você me pediu pra morar no seu abraço, foi só amor quando nós dois morrendo de medo resolvemos pegar aquele trem pra tentar mais uma vez, com um novo alguém.
    Mas foi amor quando nós dois, certos de que era bom demais pra ser verdade perdemos a mão. E nos perdemos da graça. E quando o amor perde a graça, não tem mais jeito. É cada um seguindo pra um lado, quando antes davam os braços na mesma direção. Quando o amor perde a graça, não há sujeito que se salve. Não há mais coração pra ancorar.

   E sobre a gente não dar certo. Você tinha razão. Aliás, isso você tem de sobra. Só espero ter guardado um pouquinho de toda a minha emoção.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Tudo novo, de novo

  Leia e ouça: Let it go

  Você dizia sem parar que na vida tudo muda de lugar. É um vai e vém de ruas, esquinas, gente... Entre olhares e sorrisos, tudo novo de novo. Era tudo novo com você por aqui, o par de olhos no espelho, os cabelos espalhados no travesseiro, e mais uma xícara na mesa do café. As mãos dadas nas alamedas, as flores coloridas nos canteiros, canções que soavam pelos cantos da cidade por onde a gente passeava sem se preocupar.
   Odeio admitir que você estava certo. Tudo muda de lugar. Inclusive você,  e nós dois. A casa amarela, ainda estática na mesma avenida, por dentro anda meio vazia. O cheiro do perfume, o violão no cantinho da porta, a camisa jogada na cama, tudo fora do lugar. Tudo num outro lugar, tão longe daqui. Sentada na sua poltrona preferida, olho as nuvens caminhando pelo céu... Percebo que sou uma delas agora.
   Sou como a nuvem, que tem cara de algodão e sabor azul. Sou como a nuvem que paira, meio vazia meio cheia e ameaça chover. Sou a gota de chuva que cai, e chora a saudade de quem um dia foi par. Sou o vapor d’água que volta pro céu, na nova tentativa de nascer de novo. Sou eterno recomeço desde o dia que você se foi. Sou as notas daquela música, que tocou no rádio, arranjadas numa nova melodia pra tentar te esquecer. Sou um barco seguindo outro rumo pra me encontrar no próximo porto.
   Recomeçar, é muito mais do que começar de novo. É se permitir, e só a gente sabe a dor a delícia de cada vírgula rabiscada onde um dia esteve um ponto final. A vida é sim uma eternidade de recomeços como um dia você me falou,  eu só não esperava que fôssemos mais um.

   As nuvens ficam pesadas, o céu escurece e vejo a natureza renascer diante dos meus olhos, com as gotas molhando o vidro onde antes refletiam dois. O reflexo desta vez é singular, mas não sozinha. Estou aqui, sentada vendo a chuva cair, de mãos dadas a  todas as oportunidades dessa viagem que me permiti, pra me perder do passado e me encontrar com o presente. O presente que a vida me deu.

*Este texto faz parte de uma postagem coletiva dos Escritores da Era do Compartilhamento com o tema "Recomeço''. Abaixo, textos relacionados, dos outros participantes do projeto:

Quando a gente recomeça. - Sâmela Faria
Recomeçar: Existe vida além do término. - Valter Junior
Outros dias virão, sempre. - Juliane Rodrigues
Eu não sou sua vítima. -  Leca Lichacovski

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O nosso lugar

Leia e ouça: Scars

    Aprendi há algum tempo que lugares são afetos. Lugar é muito mais do que espaço, ou uma mera localização no GPS... Lugares são memórias, pedacinhos espalhados dentro do coração. Lugares carregam consigo cheiros, lembranças, histórias e marcas feitas em nós e nos outros.
   E hoje eu passei por aquela estação. O nosso lugar. Nosso e de mais uns milhões de pessoas que atravessam São Paulo pra trabalhar e estudar, e passam por ali desatentos, apressados. Eu não. Aquele cantinho da estação Fradique Coutinho...Lugar que hoje era frio, espaço hoje vazio, que na minha imaginação ainda te aguardava chegar.
    Olhei esperançosa, procurando entre a multidão um só rosto especial. O teu. Os olhos pequenos, um tanto míopes, o sorriso largo, bastante simples, caminhando na minha direção, enquanto dentro de mim eu segurava a alegria, tentando conter aquilo que os outros em volta já viam.
   Hoje ele não veio, repeti pra mim mesma no momento em que passei a catraca. Ele não vem mais, engolia as lágrimas que se formavam no cantinho dos olhos enquanto descia as escadas. E não foi mesmo. E não virá mais. O trem demorou tanto a chegar, ao contrário dos dias em que estávamos juntos, quando ele voava e me levava pra longe de ti. Consegui contar os passos das pessoas ao meu redor, diferente de quando ficamos horas ali encostados na mureta de vidro, esquecendo do mundo lá fora.
   Observei alguns casais nas poucas estações que passaram até eu descer, percebi que de alguma forma aquele lugar nunca foi exclusividade nossa, pelo contrário. Mas eu nunca me importei com isso, por sempre estar com você. Acontece que o sempre também acaba, né?
   Agora entendo porque é que passei meses fazendo os caminhos mais longos pra casa. Evitava passar ali, evitava os fantasmas todos que aquele lugar ainda me causa. Fugia de você, ainda tão presente ali. Presente na catraca me esperando, ainda vivo na escada rolante competindo pra ver quem chegaria primeiro quando eu subia os degraus estáticos, seu rosto estampado no vidro do trem que passa me deixando pra trás.
   Percebo assim, que lugares são tão inesquecíveis quanto pessoas. E capazes de emanar amor tanto quanto elas. Gosto de te lembrar, ainda que me doa ás vezes me lembrando de todas as cicatrizes. Gosto de saber que lá sempre será o nosso lugar, ainda que haja uma próxima estação pra descer, é lá que posso te encontrar sem precisar te esquecer.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Foi você quem me ensinou

   Leia e ouça: Singular

   Tentei dizer, mas palavra nenhuma saiu. Tentei explicar, mas a voz ficou assim, perdida no ar. Procurei por todas as palavras pra escrever num papel. Papel de carta, daqueles cheirosos, pra tu guardar na gaveta do criado-mudo, e relembrar quando a saudade bater... Não deu.
  Parece bobagem, mas é a verdade. É difícil dizer, e por mais que eu invente palavras novas, crie frases feitas pra te mostrar, não vai dar. Não fará tanto sentido do lado de fora quanto faz aqui dentro.
  Dizem por aí que tudo faz mais sentido quando é sentido.  Acho que é isso. Eu sinto. Sinto uma alegria enorme quando você chega e traz esse teu sorriso bonito no bolso. É lindo quando ele sai devagarzinho e pousa na tua boca. Eu sinto uma vontade doida de ficar quando você me pede mais um carinho, um cafuné, ou pra ficar sozinho.
  Mas eu sei que é tarde, e já tá na hora de ir. Sair pela porta e ainda assim sentir uma saudade louca dos cinco minutos anteriores. Saudades de toda a simplicidade que somos quando estamos sós.
  Eu sinto que fomos feitos um pro outro, não assim como as metades da laranja, ou o Romeu e a Julieta. Fomos feitos pra sermos nós dois, um na vida do outro. Eu fui feita pra ser teu escudo de proteção, e aquela que você pode procurar quando o seu universo sofrer um colapso. Você foi feito pra ser a razão em toda a emoção que eu sinto.
  Somos a canção no silêncio de cada um. E seremos sempre refúgio pros dias ruins que ás vezes parecem infinitos. Os braços que se entrelaçarão num abraço contínuo, prontos para oferecer um pouco mais de si. Olhares que apontam para direções diferentes, e é por isso que farão cada um de nós enxergarmos novas perspectivas.

  Eu serei o que você precisar, quando e onde estiver. E eu sei que não preciso pedir o mesmo, porque você já é tudo isso. Essas palavras que eu tanto procurei,  e que se esconderam pra não sair, são só pra te dizer que nesse mundo há alguém que muito te ama, no sentido mais puro e mais bonito da palavra amor, que por sinal também foi você quem me ensinou.

domingo, 30 de agosto de 2015

Eu sempre gostei de plurais.

   Leia e ouça: A noite

   Assumo. Doeu te ver passar como um estranho, acenando do outro lado da calçada, apressado, meio surpreso de me ver, talvez. Foi duro, engoli seco, fumei um cigarro e o gosto do vício me deu ainda mais saudades.
  Saudades. Palavra que insiste em ser plural quando a gente já se tornou singular. Eu era daquelas brutas, que negavam apego. E você com um discurso bêbado de vinho barato me fez rir tanto na mesa de um bar, subir pro quinto andar, me despir das roupas, me revestir de afeto e adormecer extasiada no seu abraço.
  Senti por um instante  tudo aquilo que os livros falavam. E hoje eu só sinto saudade. Eu que relutei pra encaixar minha mão na sua andando pela rua, hoje sinto uma saudade danada daquele calorzinho que passava dos seus dedos pros meus. Hoje, aquele aceno corriqueiro despertou também um leve desespero, uma ânsia antecipada de te ver como nos velhos – meio novos – tempos.
   A falta do seu ‘bom dia’, o hiato dos seus beijos ansiosos... Doeu muito mais do que deveria. As lembranças dos dias felizes, todas elas misturadas e apertadas no nó que subiu pra minha garganta quando eu tinha vontade de atravessar entre os carros e te dizer que a vida tá uma bagunça sem você.
   Tá tudo revirado por aqui, cada canto da casa sente a sua falta, a maçaneta ainda espera a camisa pendurada, a pia aguarda o prato sujo do misto quente da madrugada, o sofá, a cama, meu travesseiro, uma falta tamanha do seu cheiro.

   Não tem você preparando um café me olhando fumar na varanda depois da ‘melhor noite de nossas vidas’ de todos os dias. Hoje, quando eu te disse adeus, eu queria era dizer volta, volta que a saudade tá grande  e eu sou pequena demais pra lidar com ela. Ainda sou a sua pequena. Volta pra cuidar de mim, da casa, volta pra sermos nós... Eu sempre gostei de plurais.

*
Este texto faz parte de uma postagem coletiva dos Escritores da Era do Compartilhamento com o tema "Saudade''. Abaixo, textos relacionados, dos outros participantes do projeto:

Saudade da infância tem cura, doutor? - Tatiane Argenta
A saudade é uma miragem - Sâmela Faria
Aprendi a conviver com a saudade, mas não aprendi a te esquecer - Jô Lima
Queria te guardar em mim - Leca Lichacovski
Saudade tem sua beleza - Joany Talon
De repente, te esperar terminou... - Juliane Rodrigues
A renda e as pedras - Taciana Gaideski
Tatuei na pele - Fernanda Probst
Devaneios de uma saudade de domingo - Cristina Souza
Traduzo a saudade em forma de você - Pâmela Marques
Tô com saudade dela - Fábio Chap
11 graus de frio e saudade - Tamyhe Engler
Saudade é aquilo que fica quando algo ou alguém vai embora - Valter Junior
Pôr do sol - Tayane Sanschrí
Layna Diaz
Entre estrelas e saudade - Fernando Suhet
De cama vazia - e coração também - Cíntia Gomes
Aquele "adeus" me pareceu "até logo" - Allison Christian
Sobre saudade - Mariah
Sobre tudo que a gente não foi -Sâmia Louise
A saudade dos outros - Denise Carvalho

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Uma saudade líquida

Leia e ouça: Esquecimento

   Deságua, é como um rio que corre e leva com ele as memórias. Enquanto ela se pergunta quanto tempo falta pra não fazer mais tanta falta. Antes de você cruzar a porta, ela ainda tinha muita coisa pra dizer. E não disse.
  Não disse o quanto seu sorriso aquecia seu coração. Não disse o quanto esse seu olhar pra vida a fez desejar ir mais longe um dia. Não disse o quanto era agradecida, nem disse o quão diferente você era de todos os outros, mas no fim acabou completamente igual.
  Acabou fechando a porta, enquanto ela com o braço ainda estendido tentava entender o que tinha dado errado dessa vez. Ela poderia te odiar. Ela poderia odiar você, por não conseguir ouvir mais as mesmas músicas, as suas preferidas – mania idiota essa dela de dividir cada pedacinho seu com as pessoas – ela também poderia odiar você por ter tornado um desafio deitar naquela cama sozinha. Ela poderia, mas não consegue.
  Não consegue porque ainda te ama. Te ama do jeito dela. Aquele que você dizia que admirava, lembra? Ela ainda ama o jeito como você ainda a encoraja, mesmo de longe e sem saber. Ela ainda ama o cheiro de vida que as coisas tinham com você por perto. Ela ainda ama cada lembrança. Ela ainda te quer por perto, moço.
  Os dias têm passado, e ela ainda espera. Esse era seu defeito desde sempre, não é mesmo? Esperar demais. Ela têm altas expectativas, nas pessoas erradas. Mas você era o certo, no momento errado.
  Você ainda lembra, quando no meio de uma conversa ela ficava em silêncio te olhando nos olhos? E você, todo preocupado sempre perguntava o que tinha dito? Ela dizia nada, você só fingia acreditar pra não começar uma briga. Não era nada, de verdade. Era só o jeito dela de guardar segundos, e eternizar aquilo que ela mesma já sabia que estava prestes a acabar.
  Você, essa beleza inesperada. E tão desejada. Desejado antes mesmo de você chegar, e desejado agora mesmo que você se foi. Escorrem nas lágrimas uma saudade líquida, e todo aquele sonho que ela mantinha de fazer durar.
  Ela sabia, sempre soube, que vocês dois queriam vidas diferentes. Que os caminhos até poderiam se entortar. Mas eles se cruzaram uma vez, naquela noite fria de julho pra ela te mostrar que sempre vale a pena tentar mais uma vez.

  E quando você dobrou a esquina, era só isso que ela ainda queria explicar. É que a vida tem sua obsolência programada, mas a gente não precisa ter as respostas de todas as perguntas. A gente não precisa ter medo de amar, ela não tinha, sabia e estava pronta pra te ensinar que a gente também não pode ter medo de se deixar amar.

sábado, 8 de agosto de 2015

(C)oração

    Leia e ouça: Shadows between the sky

    Afasta de mim o vazio. Tudo aquilo que é vazio de amor, de carinho, e de verdade. Livrai-me de tudo o que retrai, apaga, ou atrasa. Ainda que eu insista em negá-las,e dispense tempo demais persistindo nos mesmos erros. Liberta-me de todo o desespero, de todo o medo de tentar. E cura todas aquelas cicatrizes, ainda que pequenas e imperceptíveis aos olhos dos outros.
     Torna-me capaz de amar, com plenitude e compaixão, mas também com a certeza de que amar a si próprio nada tem a ver com egoísmo, é sim uma necessidade para viver de amor. Faça de mim casa de boas intenções, e permita que onde estiver eu seja sempre o melhor de mim.
       Ensina-me a compreender e perdoar, a mim mesma e ao outro. Guia-me a fim de me cercar de bons corações. Abençoa-me com uma fé enorme, pra eu não deixar de acreditar nas pessoas, no bem. Livrai-me da mágoa que arrasa as intenções, e destrói tantas relações. Perdoai os meus erros, que um dia tentaram ser acertos.
       Liberta-me da pressa, da urgência... Pois é aos poucos que a vida vai dando certo. Ajude-me a crescer e perseverar, fazendo a diferença nem que seja por um segundo, na vida daqueles que me envolvem e me acolhem em seu mundo.
         Cuida de mim, como tens feito todo esse tempo, sem que eu mesma tenha me dado conta. E faça com que mesmo sem compreender, eu continue aqui onde sempre haverá um outro amanhecer, uma segunda chance pra se viver.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Menina-moça

Leia e ouça: Need the sun to break

   Procurava por tempo demais as palavras exatas. Perdia infinitos segundos no escuro tentando entender. Crise dos vinte? Talvez. Era a desculpa esfarrapada que dava a si mesma e a todos os outros que sempre perguntavam sobre quem ela queria ser.

   Esse era um dos principais problemas. Se preocupava demais, com os outros, consigo, com o futuro. E não vivia o precioso presente. Fazia planos, desenhava a casa dos sonhos, fazia listas de metas, traçava roteiros que ninguém mais seguia. Ela é demais. Em tudo. Tão intensa e tão gigante, ao mesmo tempo que consegue ser tão pequena e insegura.

   O outro problema. O medo. Ansiedade, impaciência faziam dela o tipo ‘ quase sempre desesperada’. Com tamanho mundo de sonhos e expectativas que carregava em seu coração, se vestia de papéis tentando esconder suas angústias. Criaturas que dominavam seu sono de madrugada, acompanhadas da companheira conhecida, insônia.

  No brilho de seus olhos, a revelação de quem desejava ser verdadeiramente. Infelizmente poucos conseguiam enxergar. O desejo de ser grande, conhecida, reconhecida e lembrada. A vontade de ser querida, companhia de um alguém que circulava perdido até encontrar num abraço apertado, da menina de sorriso fácil, seu porto-seguro. Ela sonhava. Como qualquer um de nós sonha, acordado ou dormindo. Queria viajar pelo mundo, escrever  lindas histórias, e viver um amor simples.

   A menina de alma doce queria mesmo era marcar o mundo. Assim como as marcas de batom que gostava de deixar nas bochechas e bocas por aí. A menina tinha medo de tornar-se gente grande. Tinha medo do tempo acabar antes mesmo de acordar.

Menina-moça esse seu coração gigante, o mundo todo tem que ver, pra nos quatro cantos ver esse seu sorriso florescer.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Quero morar num abraço seu

 Leia e ouça:  Give me love

        Aluga-se. Vende-se. Rodei a cidade procurando um apartamento, uma casa, uma república... Um lugar pra me aquietar nessa cidade insana. Te encontrei sem querer, entre um prédio e outro, num dia chuvoso, tomando um café. E quem diria, encontrei também um lar.            Foi no seu abraço que eu resolvi desfazer as caixas, desmontar as malas, espetar minha casa. Me enrolei ali, nos seus braços, me prendi no seu cheiro e adormeci no seu peito. Quero morar num abraço seu. Quero ficar, quando chove lá fora, quando o dia amanhece, enquanto os cachorros latem, e o aroma das flores da primavera invadem nosso quarto.
            E por mais desajeitado, apressado, desesperado ou cheio de saudade é no seu abraço que quero morar. É ele que me salva do fim do mundo. Abraço bom que deixa a gente com gostinho de quero mais. Abraço seu, que abre e fecha o dia com a calmaria que eu preciso
             Seu abraço que é feito laço e me prende num braço seguro, protege desse mundo louco de gente sem amor. Seu abraço que tem cheiro de hortelã, e traz de brinde os beijinhos me cobrindo da cabeça aos pés toda manhã. Esse abraço que me faz pedir pro tempo parar, ou passar mais devagar. Abraço que quanto mais apertado melhor, quanto mais pertinho mais gostoso.

            Abraço que enrosca, segura um pouquinho. Coração com coração, batendo cada vez mais forte, pedindo pra nunca mais desgrudar. Abraço só seu, de olhos fechados que me acolhe e me faz sentir em casa, aqui ou do outro lado do mundo. Estou bem se estou com você.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Me conta mais de você

Leia e ouça: Quadro verde

   Eu já sei que você gosta mais do inverno. Sei também que não come peixe cru, e sei que ouve os mesmos discos que eu sempre ouvi. Eu descobri que você gosta de vinho tinto, e eu detesto, mas tudo bem. Já decorei o seu apelido de infância, sei também do seu medo de ficar sozinho, de não dizer a verdade.

   Mas eu ainda sei tão pouco. Me conta mais de você. Me conta dos seus verões, e de todas as outras estações. Me conta dos seus melhores amigos, do seu primeiro beijo, dos seus sonhos de menino...

   Eu sei do seu jeito de sorrir, e já anotei alguns motivos que o deixam mais brilhante. Eu lembrei que você prefere chocolate branco, e não gosta muito de ficção. Mas me conta mais de você, de repente tem tanto pra saber...

   Eu gostei desse seu jeito de falar da vida, sem fazer tantos planos, porque eu sempre quis ser assim também. Eu sorri quando você disse que gostava de como eu vejo beleza nas coisas – e eu vejo tanta em você, meu bem.

   Sei que isso tudo assusta, e eu prometo me segurar um pouco mais. Sei que às vezes dá medo, mas é que eu gosto tanto de te descobrir. Te descobrir e me reinventar,  já que você apareceu quando eu deixei de acreditar.


   Me conta mais de você, eu quero ouvir um pouco mais. Gosto de saber dos seus desejos, e entender devagarzinho o porquê de eu gostar tanto assim de você.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Ela sorri bonito

Leia e ouça: Love you more

Ela sorri bonito. De olhinhos quase fechados, um sorriso escancarado que amolece o coração. Ela sorri com direito a duas covinhas surgindo, emoldurando os lábios. Ela sorri de dentro pra fora, trazendo alegria pro dia nublado com café amargo que começou agora.

Ela sorri de verdade. Sorri sem jeito quando eu digo que ela é linda de cabelo bagunçado, e maquiagem borrada depois de acordar. Ela sorri certa. E me dá a certeza de que mesmo quando as coisas dão errado – o café amarga, a chuva não pára, o ovo queima, o carro quebra – não há outro lugar onde eu preferia estar.

O sorriso dela tem luz, irradia e contagia. Confesso até que dá um orgulho besta quando ela admite que ri de mim, pra mim, por mim. Ela sorri e tudo fica bem. Ela sorri como se a vida fosse fácil, e fica, do lado dela. Ela sorri e não tem mais jeito, eu sorrio também, bobo, escrachado, rendido.


Ela sorri leve quando o coração está cheio. E que sorte a minha ter o sorriso dela pra me completar.  Ela tem esse jeito de sorrir, uma alegria que transborda e faz nascer os sons mais gostosos de se ouvir: a risada contida, o sorriso entrecortado pelos suspiros dos beijos que não me contenho em roubar.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Verdade seja dita, por favor.

            Leia e ouça: People help the people

         Dia desses conversando com uma amiga, soltei uma frase assim em tom de brincadeira – da qual ela riu e pareceu ter concordado, inclusive. –  mas de repente percebi que não era tão brincadeira assim. Eu dizia não saber viver em um mundo líquido, não ter nascido pra isso. E não nasci.
            Parece coisa de gente intelectual dizer isso, é até meio chato, eu sei. Mas é a verdade. Eu nasci num mundo, onde querendo ou não, as coisas ainda eram um pouco diferentes de hoje. E não quero, de nenhuma maneira, que isso pareça nostalgia ou coisa do tipo. Pensando bem, talvez o mundo não fosse tão diferente assim. Talvez seja só o modo como eu enxergo o mundo agora, que certamente é diferente de um ou dois anos atrás –  de minutos atrás.
            Mas eu não quero escrever sobre as mudanças do século, ou sobre maturidade... Eu preciso falar de algo que me fez questionar toda essa “liquidez” que fez a minha amiga rir. A falta de verdade.
            Sei que também é um assunto comum, e todo mundo se queixa nas redes sociais dessas coisas. Mas, a verdade é que ultimamente essa tem sido a explicação pra quase tudo a minha volta. Não. Minha vida não é uma mentira. Mas a falta de verdade não é só uma questão de mentir, é?
            Tenho me perguntado, o porquê de termos tanto medo da verdade. Medo de dizer, ou medo de saber, seja lá o que for. Sabe, em mundo de encontros promovidos pelo Tinder, a verdade não é a coisa mais esperada e mais desejada. Mas deveria, né? Eu não tô aqui para questionar a veracidade desses relacionamentos, de jeito nenhum, ok? Eu só questiono, porque é que as pessoas não dizem a verdade?
            Porque é que você não diz que não quer ficar com a garota, ao invés de manter um silêncio impenetrável, enquanto ela tenta de todas as maneiras chamar a sua atenção? Porque é que você não assume que ainda ama seu ex, ao invés de deixar seu atual mergulhado em dúvidas sobre estar fazendo a coisa certa ou não? Porque você não diz pros seus pais que a sua vida tá um saco, porque você odeia o seu trabalho e a sua faculdade? Ou pior ainda, porque é que você não fala a verdade pra si mesmo?
            Todo mundo, alguma vez na vida, já ouviu essa frase: “ A verdade dói.” Infelizmente, eu não sei dizer quem foi que disse isso a primeira vez, mas eu e mais meio mundo concordamos com você, querido. A verdade dói sim. Dói quando você ouve que não é bom o suficiente pro seu emprego dos sonhos, dói quando você percebe que seu relacionamento já passou do prazo de validade, ou pior, que ele tinha prazo de validade. Dói, dói pra caramba, eu sei. 
            Mas eu também sei que todas essas verdades, quando aceitas, doem muito menos que qualquer outra mentira, que consome a gente aos poucos e vai enchendo a gente de dúvidas. E apesar de doer, a verdade precisa ser dita. Sempre. Porque essa é outra coisa que precisamos aprender, sofrer. Sofra, sofra de verdade e com toda a intensidade que precisar, porque  como dizia a minha avó “ Quando a gente sofre por algo que é verdadeiro, o sofrimento também é aprendizado.”

            Apesar de ter dito aquilo pra minha amiga rir, foi verdadeiro. Eu me cansei dessa falta de sinceridade, desses muros que a gente mesmo constrói e depois não sabe sair, dessa  nossa mania de sempre estar “bem”. Eu me proponho um desafio, mais ou menos como num filme que vi uma vez, com o Jim Carrey... Dizer a verdade. Algo que deveria ser tão simples, e eu mesma tenho tornado tão difícil. Ser verdadeiro num mundo de mentiras é um privilégio, e não custa nada arriscar.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

O que leva a gente, o que a gente leva

   Leia e ouça: Tempo Perdido

    “A vida é importante demais pra ser levada a sério”. Li essa frase riscada  em cor de rosa-choque num muro do centro da cidade. Eu caminhava a passos curtos, breves...Como a vida têm sido. Parece até bobagem de quem tá ficando velha, mas os dias vêm passando mais rápido, não? E aquela certeza de que eu tinha todo o tempo do mundo, escorre pelo ralo junto com a água do chuveiro que me lava dos problemas.

   Oscar Wilde, autor da frase, tinha razão. A vida é importante demais, mas também é curta demais. A vida é esse trem perdido, que a gente sobe sem pedir e desembarca sem querer. A vida não é um filme, mas é cheia de dramas, comédias, romances e terror, na verdade tá mais pra uma locadora, ou pro Netflix, com todas essas opções.

   Sabe, é isso, cara. A vida é feita de opções. São escolhas. É você decidir colocar mais açúcar no café, mesmo sabendo que isso vai ferrar sua taxa de glicose, só porque seu dia tá amargo o suficiente pra não arriscar um pouquinho. É ir de bicicleta quando todo mundo vai de carro, porque assim se admira melhor a vista. É fazer agora, e não mais tarde. Porque depois pode ser tarde demais.

   A vida é ter medo, é fazer de todo amor o amor da sua vida – e que se dane o que vão pensar. É se dar o trabalho de aprender, e saber que você também tem muita coisa pra ensinar.  A vida é fazer o nosso melhor. E o melhor que podemos fazer é parar de perder tempo tentando descobrir o sentido da vida, e vivê-la.

  O que nós temos que entender de uma vez por todas, é que a vida não tá aqui só pra gente ser feliz. A gente vai sofrer sim, a vida nos reserva dores que estão aí guardadas, só esperando o momento certo pra existir. E tudo bem com isso.


   Viver também é mudar de ideia, e ninguém pode ser crucificado por isso. Viver é se deixar levar. Afinal, a vida nada mais é o que leva a gente, e o que a gente leva dela.

domingo, 21 de junho de 2015

Amor não é crime pra acharmos culpados.

    Leia e ouça: Fall

  Essa é a hora. O tal momento que eu tenho tentado escapar há tanto tempo. É a hora de tomar uma decisão, de sair do ponto morto e parar de fingir que está tudo bem, que vai ficar tudo bem. É hora de assumir, de fechar as cortinas que eu mesma abri quando criei um espetáculo, onde você era o mocinho, eu a princesa e o final era feliz.
  Sabe, eu sempre achei que estivesse pronta pra isso, embora eu fugisse desse momento mais do que qualquer outra coisa na vida, embora eu temesse ouvir e ter certeza das minhas desconfianças. Mas em histórias de amor, não dá pra ter medo, né? Eu deveria saber.
  Eu deveria saber. Aliás, eu sabia. Sabia, porque desde antes, eu sempre quis mais. E no amor, não dá pra ser desproporcional. Eu e você sempre fomos opostos. Na verdade, você é o que eu sempre quis ser, e foi por isso que me apaixonei, talvez. Por isso, e pelo seu olhar, pelo seu sorriso, pelo seu cheiro, pelo seu toque...
  Ás vezes – você não nota, ainda bem – eu fico te admirando em tarefas simples do dia-a-dia. Talvez seja porque você lindo, e seja inevitável não prestar atenção. Mas talvez, seja porque eu imagino como seria ser um pouquinho mais você.
  Mas voltando ao momento crucial – essa fui eu tentando fugir mais uma vez – dói muito, mas não dá. Não dá mais pra se entregar sozinha, e rezar todas as noites pra um dia você voltar e perceber que o que faltava em você era eu. Porque amor é feito de dois, de presença, de entrega. E não importa o quanto eu já tenha me entregado – e eu já dei tudo de mim – você não pôde se entregar.
  Você não quer e não pode, porque apesar de negar, você ainda é todo dela. Da cabeça aos pés. E Deus me livre, mas que inveja. Dói finalmente admitir isso pra mim mesma, sabia? Dói pra caralho, e dói mais ainda porque eu não posso te culpar. É que eu sei que do mesmo jeito que eu não tenho culpa de amar você, você muito menos de amá-la. O amor não é crime pra acharmos culpados.
  O amor é tão esquisito, né? Meio masoquista. Até o momento em que você não consegue mais lidar com a dor de amar alguém com quem você sabe -apesar de custar a acreditar- que nunca daria certo. É nesse momento que não importam quantas lágrimas caiam pelo seu rosto, ou o quanto as lembranças te aqueçam o coração, você só tem que abrir mão. Reconhecer, e desistir. Porque amar também é deixar ir.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Crescer é inverno, amadurecer é verão

  Leia e ouça: Velha e louca

  “ Quando você crescer, vai entender...” dizia minha mãe. No último feriado, entre algumas xícaras de chá, e livros novos, passei um dia inteiro repensando os últimos seis meses, planejando a outra meia dúzia... E percebi que crescer é um desafio diário, que a gente sempre tenta fugir.
   Daqui há seis meses, completo vinte anos. Duas mãos inteirinhas, e eu já vou ter que começar a usar os dedos dos pés pra contar minha idade. É engraçado o quanto tudo e nada mudou nesse tempo todo. Tudo, porque obviamente eu vivi ciclos diferentes nessa minha vida. E nada, porque sei que ainda há muito o que aprender.  Em alguns dias – como no fim de semestre, que enlouquece qualquer ser da face da Terra – eu me deparo perguntando pro espelho porque é que o tempo passa tão rápido, em outros – como agora, escrevendo esse texto – percebo que o tempo passa como tem que passar, tudo depende de como a gente resolve encarar essa passagem e o que é que a gente faz pra aproveitá-la.
   Crescer dói, porque nos obriga a consertar os próprios erros, crescer dói porque nos faz mudar. Crescer dói porque a gente descobre que adultos não são felizes o tempo inteiro, e não tem a solução pra todos os problemas, infelizmente. Crescer dói porque pessoas queridas nos deixam antes do que pensávamos, e descobrimos que não somos imortais.
  E mesmo com todas essas dores, nos ossos ou na alma, a gente cresce. Mas o mais gostoso de tudo isso, é que amadurecemos também. Amadurecer é o alívio das dores. Amadurecer é passar um tempo consigo mesmo, e ser feliz com isso. Amadurecer é entender que querendo ou não, as pessoas vão embora – pro céu, pro inferno, pro outro lado do mundo, ou pra fora de nossas vidas – e apesar disso doer pra cacete, é inevitável. O que também é inevitável, é a ida da dor, por mais dura que pareça, ela também se vai.

  Amadurecer é saber que alguns amores duram a vida inteira, mesmo que acabem. E alguns duram só uma noite, ou nem isso. Amadurecer é entender que tudo é possível, mas nem tudo é necessário. Amadurecer é ir do jeito que der, porque a gente sempre dá um jeito. Crescer é inverno. É frio, seco, doloroso como levantar da cama numa manhã de 15ºC. Mas deixa as pessoas mais elegantes. Amadurecer é verão. É prazeroso, exacerbado, ardente, ensolarado, divertido. Amadurecer bronzeia, queima como o sol do verão do Rio. Viver é ser das quatro estações um pouquinho, ser sol em dias nublados, e chuva pros sóis de verão.



quinta-feira, 28 de maio de 2015

O homem dos sonhos

   Leia e ouça: Without a word

   Essa noite sonhei com você. Clichê, eu sei – este é só mais um deles, afinal sou cheia, sou só, sou eles todos em carne e osso – mas sonhei algo diferente dos outros sonhos, das outras 365 noites que tenho sonhado e acordado, e ainda permanecido contigo. E por mais que fosse um sonho, deveria ser real. De olhos abertos, eu não tenho a mesma coragem.
   Coragem de dizer que eu ainda te amo, mas todos os dias eu tento me amar mais. Eu tenho tentado te arrancar do primeiro lugar do pódio, te tirar do primeiro lugar da minha vida...Coragem pra dizer que você continua sendo a melhor coisa que me aconteceu, mas que eu tenho sido a pior desde então. Eu queria te contar, com meus olhos bem abertos e focados nos seus, que eu minto quando você me pergunta como eu me sinto. Eu minto porque eu mesma me cansei dessas verdades. Eu minto porque sei que as minhas verdades não são o suficiente pra nós dois.
   Em sonho, eu te digo o que há muito tempo tenho ensaiado em frente ao espelho. Em sonho eu consigo, resisto, e me afasto da tentação do seu sorriso que me arrasta pra dentro de você, e das ilusões criadas por mim. Eu te digo tudo que até hoje eu tentava negar, mentindo pra mim mesma fingindo ser feliz assim, com nossas migalhas, nossos restos, o pouco ou nada que sobrou de nós.
   Te conto algo que me mata aos poucos, e que eu mesma inventei, mas não consegui mais controlar. A verdade é que o que nós temos é lindo, mas efêmero. E eu não sei viver de coisas instantâneas, desculpe-me se te disse que aprenderia. Desculpe-me se eu te disse que seria bom, eu sei que não é. Eu sei que eu sou um “pé no saco”, e não te culpo por fugir de mim, eu também fugiria.
   Me mata quando você me escapa, quando percebo que te tenho tão pouco e isso não precisa ser o suficiente. Não precisa ser desse jeito, ninguém merece metades, nós nascemos pra ser inteiros. Mas você não é assim, você não tem essa necessidade. E nós temos todas essas diferenças, foram elas que em sonho eu enxerguei. Sonhei com você, e pela primeira vez te reconheci. Tão lindo, tão distante, e efetivamente impossível.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Entre nós dois

Leia e ouça: She

  Não precisa me ouvir dizer pra saber a verdade. Não é preciso que eu grite aos sete ventos o que eu estou sentindo pro mundo inteiro perceber. Eu ignoro, fujo, jogo o cabelo pro lado e solto um meio sorriso. Eu finjo pra mim mesma que tudo vai ficar bem, e fica, até você voltar. E volta com toda a sua graça, com todo o seu jeitinho de “provoco e nego”. Volta e me faz esquecer a raiva, e as promessas que me fiz pra te esquecer.

  Volta e me faz esquecer de todos os “nãos” que eu disse que responderia quando você me chamasse pra sair, e respondo sim. Volta, e me deixa atordoada com todas as dúvidas que vem de mãos dadas contigo. Volta, e me traz de volta as noites mal dormidas revivendo nossas histórias tão mal acabadas. Volta e ao mesmo tempo que me revolta, me fascina.

  Entre nós dois não há meios termos. Ou sou tudo, ou sou nada. E por favor, não escolha nada. Entre nós ainda existe aquela mistura de curiosidade e devoção. Entre nós dois não há arrependimento, pois não nos demos tempo pra repensar as loucuras. Entre nós persistem erros, mas os acertos ainda me dão bons sonhos à noite. Entre nós dois há um medo sem nome, um desejo sem freio...

  Quando você volta, voltam também os arrepios – de medo e de paixão – voltam as lembranças que jurei nunca esquecer. Voltam as vontades reprimidas, voltam beijos apressados e despedidas infinitas de quem vai e vem, de quem ama, sofre, e sempre espera você voltar.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O medo de enxergar

  Leia e ouça: Cegos do Castelo

Por Andre Vieira

  A visão sempre foi algo muito precioso ao ser humano. É com ela que nós descobrimos as cores e os sorrisos mais bonitos, os grandes campos floridos e a luz prateada do luar, a serra e o mar. É por meio da visão que sentimentos tão quentes e felizes se concretizam em uma mistura de luzes de sombras, claros e escuros, algo tão único e inexplicável.

  No entanto, olhar apenas por uma fresta de luz ou um par de olhos inocentes nunca foi saudável. Encontrar outras formas de olhar a mesma situação ou refletir sobre o visto e vivenciado são, hoje, coisas fundamentais para se entender o que se passa nas ruas e casas, nos apartamentos e palácios. Até onde se estende nossa visão?   
                                            
  A pergunta me vem à mente enquanto sigo minha caminhada, em direção à Paulista, em uma ensolarada tarde de abril. Logo após um almoço mal digerido terminado às pressas, e de uma breve discussão sobre demissão de centenas de jornalistas, o humor não é dos melhores, tampouco bom é o cenário que se podia imaginar da manifestação que acontecia na Avenida.

   Continuo dando alguns passos frente ao meu destino sinuoso e incerto, e logo me vem à angústia: como eles irão me ver e julgar? Será eu o repórter? O dito membro imparcial da sociedade, o apurador de verdades, os olhos de quem não pode ou não consegue ver o que vemos? Ou seria eu o vilão? O motivo daquele ato, o comunista, o vagabundo, o apoiador dos corruptos e espalhador de mentiras? Seus olhos serão revestidos por lentes cor-de-rosa ou por óculos escuros Rayban? Veriam com os próprios olhos, atentos a todos os detalhes e minucias ali presenciadas, ou teriam uma visão cerrada e bem delimitada segundo os grandes meios de comunicação e de seus amigos e familiares? Eis a questão. 
                     
  Chego à Avenida e deparo-me com uma grande disparidade entre o que vejo e o que foi noticiado pela televisão antes de minha partida ao ato. Vejo cartazes cheios de discursos de ódio contra grupos sociais e raciais mais desfavorecidos historicamente, odes à volta dos militares, odes ao xenofobismo e ao deboche público de pessoas que, muitas vezes, desnecessário e infundado.

  Meu desespero é grande. O medo é avassalador, um golpe certeiro entre as costelas, daqueles que o juiz já dá como encerada a luta e aponta o ganhador do campeonato mundial, fico sem ar- vou à lona. Tenho medo. Medo de enxergar o que vejo. Medo de isso se torne perpetuo.  Mas qual o sentido daquilo tudo? Nascemos para sermos fies máquinas de reprodução de informação? Seriamos não uma engrenagem torta, velha e rota das máquinas das grandes mídias produtoras de conteúdo? Teríamos alguma voz ou qualquer tipo de representação fora dos grandes meios de comunicação?                                                                                                                                  
Não faz sentido.
  Não, não há sentido para tanta cegueira, tanta penumbra, tanta escuridão pautada por gente de tanto potencial e de tanta sabedoria.  Se José Saramago, produtor do livro “Um ensaio sobre a cegueira”, visse o que passa ali ficaria surpreso em ver, uma vez mais, sua obra tomar vida fora das bibliotecas e rodas de leituras. Talvez o autor, contente com seu trabalho, ficasse feliz com a expansão e o reconhecimento incontestável de sua teoria literária, sorte de Saramago e o azar nosso, que estaríamos presos a uma realidade onde há a cegueira total da visão. 
                          
  A manifestação, enfim, acaba. O ato que reuniu cerca de 100 mil pessoas, segundo o banco de dados da Folha de São Paulo, resume bem um das minhas maiores preocupações inicias: não é de interesse dos manifestantes ouvir a histórica inteira, entender todo o contexto, ver a situação por diversos pontos de vista. Só há a preocupação em ouvir o que lhes convém, falar meias palavras, meias verdades, meias mentiras e estar satisfeito com o que lhe entregam como modelo de sociedade. Talvez, o melhor remédio para essa cegueira funcional seja perder o medo de enxergar, abrir as janelas de casa e olhar tanto a serra quanto o mar, sem medo de se perder ou achar.