quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Todo mundo espera alguma coisa de um ano novo

 Leia e ouça: Um dia após o outro

  Recebi uma mensagem esta manhã. Nela dizia algo sobre agradecer o ano que tivemos, e repensar sobre tudo aquilo que aprendemos, e todo aquele blá blá blá de fim de ano. Mas algo especial me chamou a atenção, a pergunta que finalizava a mensagem: Quais seus planos pra 2015?
  Fiquei algum tempo deitada na cama pensando sobre essa história de fazer planos. Depois de uns vinte minutos, entremeados por uma leve soneca regada a um sonho sem sentido, coloquei os pés pra fora da cama e me olhei no espelho. Quais os meus planos pra 2015?
 Planejar tem a ver com criar expectativas, e uma das minhas metas pro ano que passou foi justamente não criar tantas expectativas. Então eu estaria descumprindo um plano passado ao fazer mais planos pro futuro? Sei lá, reflexões demais pra essa hora da manhã. Enquanto tomava meu café me veio na cabeça - não faço ideia do porquê - aquela história de "todo mundo espera algo de um sábado a noite" - talvez por estar de férias e todos os dias parecerem sábados- e a verdade é que todo mundo espera alguma coisa dos quarenta e oito sábados que chegam com o ano novo, dos quarenta e oito domingos, e dos onze feriados prolongados que 2015 nos reserva também. Todo mundo espera alguma coisa de um ano novo.
 E o que eu espero desses mais de 360 dias que me esperam também? Eu espero mais encontros. Encontrar a mim mesma que ás vezes anda perdida por aí, sentar comigo e tomar uma xícara de chá - pode ser uma limonada também, porque tá um calor das Arábias, né?- e me reconhecer. Encontrar um jardim bonito, um museu legal, uma praia deserta, um parque calmo, encontrar um lugar novo. Encontrar gente nova, e ganhar sorrisos, poesias, experiências, trocar telefones pra numa noite monótona de inverno se reencontrar.
  De 2015, eu espero transformações. Minhas mesmo, sabe? Espero poder me transformar a cada dia. Na garota saudável que eu prometo ser todo janeiro que começa, no orgulho que todo (a) filho (a) quer ser pros pais - mesmo que negue, a gente sempre quer dar orgulho pra eles.- E transformar os meus sonhos em realidade.
 Nesse ano novo eu quero deixar as superstições de lado, as promessas, as simpatias pra encontrar o amor da vida; Eu quero fazer por merecer. Merecer a sorte, a paz, o sucesso, a alegria e todo o bem que 2015 pode me trazer.

domingo, 28 de dezembro de 2014

A paz que vem das palavras

  Leia e ouça: Electric Sea

  Nesta noite resolvi escrever sobre a razão de escrever ao invés de falar. Não vou mentir que muitas vezes até por aqui as palavras escapam, hoje mesmo, já escrevi mil vezes e apaguei. É que dizem que quando a gente sente demais as palavras expressam de menos, talvez seja mesmo esse o caso, sentir demais. Por sentir demais que eu mais escrevo do que falo, por sentir demais que muitas vezes me embaraço, por sentir demais que ás vezes prefiro o silêncio.
  Há alguns meses, criei esse espaço mais pra mim do que para os outros. E foi por meio dos pontos e das vírgulas que descobri que não estou sozinha.
  Dentro dos meus poucos um metro e meio de altura - um metro e cinquenta e quatro, especificamente - há mais que mil pessoas. E é por isso que dizem que  cada personagem carrega em si um pouco de seu criador. Porque nós escritores, somos demasiados pra ser um só. Inevitavelmente somos exageros, excessos, e acabamos por extrapolar. Pra não extrapolar é que eu escrevo. Pra não engasgar com tamanho exagero que sou. 
  Peço desculpas, muitas vezes eu não sei conversar. Eu sei que sou muito mais interessante quando escrevo, por aqui deixo de lado algumas máscaras que visto durante o dia - e não seja hipócrita,todo mundo veste máscaras -  aqui o meu lado persuasivo, minha eu corajosa, minha mulher despudorada, minha menina mimada, tomam conta de mim e sem aviso prévio ganham voz e vez pra se mostrar.
  É por libertação e redenção que escrevo, é uma forma de clamar e desabafar ao mesmo tempo, um caminho onde encontro a paz- mesmo que temporária- pra minha consciência. E se você chegou aqui, lendo este texto, quero de alguma forma agradecer. agradeço por ter sido ombros ternos e ouvidos atentos pros meus deseperos, por ter sido depósito de desejos e sonhos e por mesmo sem saber me incentivar a continuar.
  
  
  

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Você (ainda) está aqui

  Leia e ouça: My love goes free

   Encontrei retratos seus  enfiados numa gaveta trancada, como se quando a gente trancasse as lembranças esquecesse o passado. Revirei as fotos, as cartas, e eu juro que me esforcei pra me lembrar dos nossos sonhos e promessas. Fechei os olhos pra conseguir voltar no tempo, tentando em vão trazer de volta aquele alguém que nós fomos.
  Engraçado é que eu mesma não me reconheci. Tudo parecia um filme, a vida de outras duas pessoas. Outros dois estranhos. Quando foi que nos tornamos estranhos? Ou quando foi que deixamos de ser? Impresso naqueles papéis dois rostos que eu desconheço agora. 
  Não sentir rancor, culpa ou amargura, é errado? Eu não sei. É estranho, depois de tanto tempo perceber que se seguiu em frente.  Engraçado também como o tempo passou rápido. Fácil reparar no quanto mudei - mudamos - nesse tempo. Cabelo, tatuagem, emprego, apê... Conheci outros lugares, e amores, conheci meu lado bom e ruim.
 E eu não me pergunto mais o que faltou ser, sabe? Porque sei que fomos tudo.Tenho sentido uma estranha paz de espírito. Só não me entenda mal, longe de ser alívio, eu ainda te quero bem. Tão bem quanto me quis, tão bem quanto me fez.
 Só queria te contar, onde quer que você esteja hoje em dia, que você ainda é presente por aqui. Você está no sorriso que eu dou pro espelho, me lembrando de me amar em primeiro lugar. Você está nos elogios que faço, pra lembrar o mundo que é importante dizer o quanto quem a gente gosta é especial. Você está nas minhas dores, me ensinando que não há nada que o tempo não dê seu jeito. E você está no meu coração também, me fazendo entender que o amor não tem pressa pra acontecer, que a gente apressa demais o mundo e se esquece de viver.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Ao meu, Seu Antônio.

  Leia e ouça: Adagio after Marcello

  Hoje tinha tudo pra ser o dia da ressaca. É, eu sei que ainda é terça-feira, sei que a segunda mal passou, e ressaca mesmo é domingueira. Sei que os últimos meses do ano dão mesmo uma moleza, um pesar, um desassossego; e hoje tinha tudo pra ser exatamente assim, mas não foi.
  Li em algum lugar que nenhum dia é em vão, e hoje - depois de um dia arrastado e horas de uma ansiedade louca, querendo mais do que nunca as merecidas férias - recebi uma recompensa que valeu mais do que finalmente deitar na minha cama, como tanto desejei desde que deixei as cobertas de manhã.
  Dentro do ônibus que me leva todos os dias de volta pra casa, tantas pessoas querendo o mesmo que eu, no meio delas alguém com quatro vezes mais idade mas olhos tão jovens. Um homem de cabelos grisalhos, suéter azul, e uma bolsa de couro surrado. Segurava a mão de um garoto com metade da minha idade, que fazia perguntas sem parar um instante sequer. As outras pessoas talvez não tenham reparado, pela pressa da vida urbana ou seja lá porque. Eu assisti naqueles quarenta minutos de trânsito um exemplo.
  O senhor, um homem distinto como diria minha vózinha, fingiu se sentir ofendido quando levantei para que sentasse,dizendo: " De jeito nenhum, mulher nenhuma levanta pra eu sentar". Insisti, e ouvi novamente um "Não, obrigado" com um sorriso no rosto, tentei ceder meu lugar então ao netinho que imitando a educação do avô, negou com a cabeça, e me perguntou o nome do livro que eu estava lendo. Sorri instantaneamente, ao perceber um remoto interesse pela leitura de uma criança que vive num mundo completamente exposto a tecnologia.
  Seu Antônio - nome que dei a ele por conta própria, porque muito distraída acabei esquecendo de perguntar - certamente percebeu minha cara de cansada, de quem não dorme direito há dias, e me disse com uma doçura sem igual: " Menina, trabalhou hoje né? Pois agora relaxe, aproveite o natal pra descansar". Engatei uma conversa sem banalidades com aquele homem, sem perguntar sobre o tempo, sem falar da chuva, sem reclamar da vida. E me senti tão agradecida por mesmo sendo um estranho, ser tão preocupado e tão simpático com uma garota sem graça e sem sal da cidade insana.
 Costumo falar sobre o amor por aqui, e Seu Antônio me ensinou mais uma forma de amar. Talvez a mais verdadeira e mais plena, a de amar um estranho, dispensar um pouco de carinho com  uma pessoa qualquer que passa pela rua, alguém que nunca mais verá.Para ele pode ter sido apenas mais uma conversa de ônibus, com uma garota que como ele mesmo diz " tem tanta vida pra viver" mas para mim, esse gesto simples de reconhecer a existência do outro ao nosso redor, valeu o dia, a semana, o mês, o ano.
  Continuei meu caminho carregando o sorriso daquele homem no peito, me lembrando da curiosidade daquela criança que estava com ele. O paradoxo do velho e do novo, do ontem e do hoje presente ali. Agradeço ao senhor, que pode ser Seu Antônio ou Seu João, Seu Osvaldo, Seu Raimundo, e que mesmo sem nome deixou sua marca.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Falácias

  Leia e ouça: Asylum of glass

Falo mais uma vez de você. E falo daquela noite que nos conhecemos, no Bar do Zé - ou seria do Tião?- quando você pedia um suco ácido como o meu humor, e eu uma bebida forte como seu caráter. Falo do beijo que você me deu sem nem tocar nossos lábios, com gosto de desejo fazendo cada canto do meu corpo se arrepiar num olhar que me comia dos pés a cabeça e mesmo assim ainda enganava estranhos ao nosso redor.
  Falo desse querer intenso que me desperta no meio da madrugada pra te olhar do meu lado na cama, e só assim voltar a dormir tranquilamente. Falo dessa  coisa doida que muita gente chama de destino, e eu chamo apenas pelo seu nome. Proclamo um tempo ingrato, que passa depressa quando aqui estás e se demora quando se vai pra longe, tempo que parece pouco por a gente se parecer tanto.
  Grito essa rotina tosca que a gente vive de brincar de gato e rato, se escondendo da verdade. Onde eu sou o gato e o rato também, eu sou o certo, o errado, sou tudo e nada ao mesmo tempo por você. Falo das verdades e mentiras que inventei e hoje peço perdão. Falo dos calafrios que o vento me provoca fora do abrigo dos seus braços, falo da beleza dos seus olhos, da destreza dos seus movimentos, da certeza de que é você.
 Falo dos erros que cometi, e se és mais um deles tudo bem, eu aceito e persisto. Gosto mesmo é de ser o errado que você escolheu pra fazer dar certo.
  

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A escolha

  Leia e ouça: Tee Shirt

  Eu quero começar te pedindo desculpas. Me perdoe por te fazer passar por isso, eu poderia ser bem mais descomplicada, bem mais direta, bem menos maluca – e você nem sabe o quanto eu sinto muito- mas eu não sou. Me perdoe também por ter te feito entrar nessa sem avisar que eu era uma cilada, eu sei bem e você também sabe que a culpa de tudo isso aqui é minha, minha e da minha afobação desenfreada, do meu jeito de menina mimada que quer tudo pra ontem.
  Por falar em querer, você nem faz ideia de  como eu gostaria de voltar no tempo agora. Voltar pra te dizer o que eu sempre engoli em seco no meio dos nossos beijos, de toda a nossa vontade de ser um do outro, dizer o que eu sempre deixava se perder entre o suor dos nossos corpos. Mas é que sempre que eu tentava formar as palavras, elas pareciam insuficientes, vazias, sem o sentido daquilo que eu realmente sinto. Parecia até que se eu as deixasse sair elas não teriam a mesma força daquilo que está aqui dentro. Por isso eu só dizia que não era nada.
   Acontece que não dá pra dizer que você não é nada. Porque você entrou na minha vida quando eu tinha pendurado na porta um aviso de fechado. Mas você, com a sua leveza, a sua paciência abriu a porta bem devagarzinho, puxou até uma cadeira pra me ouvir contar dos meus problemas e ao invés de me julgar, fez melhor, me mostrou que  com calma a gente chega lá. E com calma, com jeito, a gente chegou juntos.
   A gente chegou juntos num lugar que eu desconhecia. Um mar sem pressa, um calor confortável, um sentimento bom, né? A rotina que poderia ser vilã mostrou que poderia jogar do nosso lado, e jogou sem trapacear. Acontece é que um penetra entrou no jogo, o medo.
  Sempre me disseram que quando a gente gosta de alguém de verdade, o medo vira nosso companheiro inseparável. Eu não acreditava muito nisso. Até que o danado do medo resolveu dar as caras. O medo de perder aquilo que eu ainda nem tinha direito, o medo de perder aquilo que me fez destrancar as portas, o medo de ter que trancá-las novamente, o medo de perder você.
   Eu sei que pode parecer uma bobagem sem tamanho essa história de perder o outro, porque na verdade a gente nunca tem ninguém só pra gente, e nem tem que ser assim. Mas imaginar uma nova rotina sem o seu sorriso gostoso, o seu sorriso safado, o seu sorriso tímido, esse sorriso aberto que tanto me encanta e me faz esquecer das dificuldades de habitar esse mundo maluco no qual somos obrigados a viver; imaginar uma rotina sem poder entrelaçar os meus dedos no seu cabelo, ou tatear a sua barba bem perto da sua boca; imaginar uma rotina sem a sorte de te olhar nos olhos e saber que você não é um sonho... Imaginar essa rotina me dói, me dói e eu te peço milhões de desculpas por isso, por não ser tão forte quanto deveria.
  Eu me deixei dominar por esse medo hoje. Ao mesmo tempo que eu estava ali com você era como se não estivesse, era como se eu tivesse me perdido de mim de novo, igual quando você me conheceu. Não vou mentir que é difícil pra mim ter que encarar essa nova rotina, mas eu vou tentar me acostumar, eu juro. Sei que você também tá com medo, vi nos seus olhinhos hoje, aqueles seus olhinhos de menino num corpo de homem, seus olhos de quem tanto precisa de cuidado, e porque não dizer olhos de quem sente falta de ser amado.
  Você já sabe – e é por isso que resolveu se afastar – que eu me encantei por você, e talvez você acredite que não mereça isso. Mas eu vou te contar um segredo, se tem alguém no mundo que merece todo o carinho, esse alguém é você. Você não vê, porque talvez seja difícil de enxergar daí de cima que o seu coração vale mais que prata, ouro, ou diamante. Você é uma jóia rara,  e eu não digo isso por vaidade, digo apenas porque é a verdade inscrita na sua alma.
  Talvez eu devesse te agradecer, mas assim pareceria uma despedida e eu ainda sinto que não disse tudo que tenho pra dizer. E eu não quero me despedir de você, entenda isso. Não quero me despedir desse bem querer, dessa cumplicidade, desse encontro raro de se ter. Não quero me despedir da parte de mim que me fez falta, da calmaria pra minha pressa, do meu anjo da guarda, meu confessor, meu melhor amigo. E é por querer estar por perto, que eu engulo esse seu medo bobo de ser feliz. Que eu supero essa sua insistência em acreditar que as coisas podem estar erradas quando estão dando muito certo. É por querer honrar esse papel que Deus me deu do seu lado, que eu disfarço essa sua vontade de viver uma penitência, com um sorriso. É por gostar de você de um jeito que me assusta que eu me obrigo a entender a sua escolha, e fingir que ela é a melhor pra nós dois.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Secretária eletrônica

Leia e ouça: Oi

  Liguei pra te dizer que andei desarrumando a estante da sala, só pra tirar dali aquela presença tua em cada livro empilhado, em cada disco do Chico que você me comprou. Liguei pra contar que chegaram uns exames teus aqui em casa, abri e parece que está tudo bem, sabe? Seu coração bate bem, tá tudo no lugar, menos você que não tá por aqui. Liguei pra avisar que vesti aquela tua jaqueta azul quentinha ontem, faz tanto frio sem você por perto.
  Liguei pra pedir, se você vier pra cá esta noite, por favor traz um vinho que o daqui de casa já acabou. Liguei pra avisar que a porta vai estar destrancada, se eu não atender a campainha é porque estou no banho, tá? Liguei pra avisar que ligaram do telemarketing do seu celular, pra te oferecer um pacote novo. Liguei pra falar que tava passando teu filme preferido na tv ontem, mas eu acabei dormindo no finalzinho como sempre...
  Liguei pra ouvir tua voz, mas só ouvi a secretária de voz robótica me pedindo pra deixar um recado. Liguei pra pedir um afago, mas só ganhei o silêncio. Liguei foi pra dizer que já chega de me fazer de durona, eu sou é bem maria-mole, e cê sabe disso. Liguei pra dizer que eu ainda sei de cor o seu número, e não há santo que me faça esquecer. Liguei foi pra assumir que eu sinto saudades, e que cê tá fazendo muita falta debaixo do meu cobertor. Liguei pra dizer que se um dia você resolver checar a sua secretária eletrônica, por favor só não se esqueça da gente, não se esqueça da felicidade que você me deu de presente, porque eu não vou me esquecer do presente que foi ter você.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Toda forma de amor

   Leia e ouça: Love Someone

   Alguns amores duram a vida inteira, mesmo que acabem. Outros duram apenas uma noite e são tão incríveis quanto. Alguns amores são doces, outros são ácidos. Alguns amores são de antes, de outras vidas, outros são de agora até não se sabe quando.
   Há amores de sonhos, há os amores reais. Há os amores privados, secretos, medrosos. Tem amor que começa com paixão e termina com desgosto, tem amor que é mais amizade que amor, tem amor que é desejo, fogo e tentação.
  Alguns amores nascem de uma troca de olhares, outros da partilha das vidas, das histórias e dos sonhos. Alguns amores já surgem fadados, outros simplesmente não surgem. Certos amores são brincadeiras, imaturidades, incertezas. Outros são cúmplices, amantes e amigos.

  Alguns amores tem nome e sobrenome, outros se perdem pelas ruas da cidade num suicídio quase instantâneo. Há amores coloridos, cheios de nuances. Outros são simples, brancos, pretos e suaves. Amores só fazem sentido para aqueles que sentem, para aqueles que apesar de imperfeitos escolhem alguém —ou são escolhidos—para amar.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Se ela estivesse do meu lado

   Leia e ouça: The Luckiest

  Ela tinha medo do mar, e amava o barulho que as conchas faziam quando colocadas ao pé do ouvido. Ela tinha pressa de viver, e eu tinha pressa de amá-la. Ela tocava guitarra, falava alemão e odiava Beatles. Eu tinha um quadro do Paul na parede do quarto desde pequeno, falava um português horrível e gostava mesmo era de tocá-la. Ela caminhava pela casa com os pés descalços e o cabelo molhado, o perfume da loção de banho de pétalas enchendo o quarto de amor e desejo.
  Ela deixava a cama cedo, e largava a saudade deitada comigo. Ela chegou em dezembro com seu cabelo vermelho, uma âncora na nuca e um cadeado no peito. Ela sorriu numa terça, na mesa de um bar cheio de gente chata e deselegante. Ela me notou preso naquela timidez, disse que odiava a minha camiseta do John Lennon, eu me calei. Ela sorriu apertando os olhinhos, suspirei e notei uma pintinha perdida ali entre o nariz e a boca.
  Ela falava sobre cinema frânces e comidas de boteco. Ela adorava pimenta e odiava dieta.
Eu fui perdendo a noção do tempo e gostando de ficar ali, com a garota de sorriso aberto e fácil, gostos tão diferentes dos meus e uma paixão pela vida. Mal sabia que acabaria era gostando de ouvir aquela voz todos os dias de manhã me acordando sem dizer bom dia e me enchendo de beijos que misturavam hortelã e canela.
 Ela era escorpião, eu era peixes. Ela era bem gostosa, eu magrelo sem graça e sem grana. Ela amava gatos, eu um alérgico atacado. Ela dormia do meu lado preferido da cama, mas e daí? Pra mim valia tudo se ela estivesse ao meu lado.