quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Dedo podre

 Leia e ouça: Inward Journey
– 
Mais uma xícara por favor!
  Sim, mais uma xícara de café, não uma dose de vodca. Depois de você parei de beber, deixei essa mania besta de me embriagar fingindo felicidade. Tenho passado as tardes de domingo naquele café na esquina da casa da sua vó, aquele mesmo lugar onde derrubei um milk shake inteiro so seu suéter de lã azul marinho.
  O café de lá ainda é amargo, tal qual eu ando desde que você deixou as chaves com o porteiro e um bilhete mal escrito dizendo adeus. Seu Antônio me olha com piedade desde então, já o ouvi dizer algumas vezes baixinho enquanto eu passava: "- Deus do céu, essa menina tem é um dedo podre de dar dó..." Pois é verdade Seu Antônio, e se fosse só o dedo tava bom, sabe?
  O que ninguém sabe, nem ele, nem a garçonete sem sal da cafeteria, é que esse tal de dedo podre tem sido a minha única companhia; porque até meu gato "" me levou. Eu sempre fui desastrada, de derrubar milk shake até viver machucada; sempre fiz escolhas duvidosas, mas você dizia que era por isso que tínhamos dado certo. Mas e agora, a gente deu errado né?
  A gente deu errado, e eu já devia ter me acostumado com essa ausência toda, essa falta toda que você me faz. Eu tento, engulo em seco quando troco o canal da TV e tá passando a sua série favorita, mas não ajuda quando a senhorinha do 5°andar me pergunta de você. Minto sobre uma viagem qualquer pra Índia, minto que quando você voltar vamos conhecer a netinha dela e os dois gatos pretos, comer biscoito no sofá... Minto tanto que nem sinto, minto tanto que eu mesma acredito. O sétimo andar agora tem um morador a menos, meu coração uma ferida a mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário