quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Agora é o resto de nossas vidas

  Leia e ouça: Under Control

  É engraçado pensar no fim. É triste, até trágico, mas engraçado. Engraçado talvez porque eu nunca tinha pensado no fim antes dele acontecer... Antes de saber que bastou uma hora pra colocar um ponto final - ou seria uma interrogação? - nos últimos cinco anos da minha vida.
   Digo interrogação pelo sentimento inevitável de dúvida que me invadiu depois do fim. É bobo. eu sei, mas também típico de mim, e você que diz me conhecer tão bem já deveria esperar, essas minhas perguntas tolas, minhas questões existenciais, e todas as outras babaquices que eu falo ou invento e você tanto gosta de jogar na minha cara agora que chegamos ao fim.
   Me pergunto onde é que nos perdemos, e você me responde na ponta da língua "a gente se perdeu no momento em que a gente se encontrou". Pensando bem, acho que foi isso mesmo, num relacionamento - por mais maluco que ele seja - a gente acaba se perdendo um pouco para  encontrar o outro. É, eu perdi minha mania de dormir com os pés cobertos, porque você sempre roubava o cobertor pra esquentar seus pés gelados. Você, em compensação, perdeu a mania insuportável de ver filmes do Godard pra passar as tardes de domingo assistindo Transformers deitada no meu colo.
   Eu, um nerd que usa camiseta listrada, óculos de armação grossa e escreve roteiros que nunca serão filmados só porque não sabe fazer outra coisa da vida, encontrei você uma patricinha não-assumida, que mantém a pose até pra terminar um namoro, e chora na porta do banheiro com medo das próprias decisões impensadas - ou será que foi por amor ainda sentido, mas guardado escondido? Nós, dois ímpares que fomos um par por tempo suficiente pra marcar nossas próprias vidas com o cheiro e o suor um do outro.
   Isso é só o fim, o que importa já foi feito. A gente já dividiu a mesma cama ainda que não dividisse os mesmos gostos, e aceite você ou não, sua maluca - a garota mais maluca que eu já conheci na vida - o nosso amor foi sim como McDonalds, e você foi o meu número um sem picles. É engraçado perceber que só quando se chega ao fim é que a ficha cai, e todas as coisas que a gente não disse parecem desentalar da garganta... Como agora, eu preciso te dizer que eu odiava visitar aquela sua tia com sete gatos, eu odiava os biscoitos que ela preparava pro café, eu odeio café. Talvez, o fim precisasse acontecer mais vezes pra que tivéssemos coragem de dizer tudo o que a gente sempre tem a dizer e não diz.
  E eu sei que eu vejo filmes demais, e que eu vou acabar te amando pra sempre. Eu vou mesmo, e inevitavelmente durante algum tempo eu vou te procurar em todas as outras garotas que eu conhecer, eu vou procurar esse nariz pontudo que você tanto implica, eu vou procurar os pés gelados, eu vou procurar toda essa coragem e toda essa maluquice que você é dos pés a cabeça.É por isso, que eu já sei de antemão que não darei certo com nenhuma delas. Isso não quer dizer que eu vá morrer de amor por você, ou talvez eu morra, você sabe que isso é bem a minha cara... Morrer de amor e continuar vivendo.
  Mas isso, como você mesma disse é o fim. É só o fim. E o que ele representa diante de todas as coisas que vivemos? Diante das 43 rosas que eu te dei durante o nosso namoro? Nada, o que importa já foi feito. Os momentos coloridos já foram, os dias em preto e branco também, o café da manhã com batata frita e coca-cola já era. E agora? Agora é o resto de nossas vidas.

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