sábado, 16 de agosto de 2014

Dona

Leia e ouça: Fancy (Acoustic Cover)
 
  
Olhos azuis, olhos de lince emoldurados por um traço seguro; como ela.  Pura e simplesmente a garota da festa, a dona do beijo com sabor de cereja. E foi ela quem roubou meu copo, num gole só tomou mais da metade, engoliu como  se fosse água toda a minha inocência. 
O vestido preto lhe caiu perfeitamente, mas passei a noite toda  imaginando-a sem - eu confesso-  as banais andorinhas tatuadas na nuca me chamavam pra voar com ela dali o mais rápido possível. E ela, nem aí.
  A música ela sabia de trás pra frente, e eu começara a decorar –e adorar- os movimentos de seus quadris.  O ritmo, as cores, tudo naquela sala parecia feito pra ela. Só pra ela comandar.
Era da liberdade, nem precisava dizer, a liberdade e ela dançavam de mãos dadas. A coragem, sua melhor amiga, saía pela sua voz. Rouca, tão intensa que quase tive a sensação de poder tocar. Dona de si, e agora de mim, também.
  Ela não sabe, mas naquela noite era ela quem controlava tudo, num piscar de olhos, literalmente. Seus cachos desarrumados, do tipo “acordo assim todos os dias” podiam se enrolar em mim dia e noite, não me importaria nem um pouco.
  Bebi mais uma cerveja, minha amiga das horas difíceis; sempre pronta pra me arrancar a timidez. Dancei do lado daquela autenticidade toda, não precisei dar uma palavra. Ela me sacou. Beijou minha boca e minha alma, manchou de batom vermelho  a bendita barba por fazer. Sorriu como se não fosse culpada, parecendo criança pega no flagra. 
   Ela domina com tanta naturalidade que eu nem me importaria em ser chamado de capacho pelos meus amigos. Ousa, sem parecer uma estranha, faceira nesse mundo de tanta insanidade. Hipnotiza-nos pobres mortais, nos embebeda só por existir.

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